O REGATO DO RIO
Como toda a gente sabe, o senhor Rio, após largos anos de férias ou de faltas ao seu trabalho como alegado chefe da oposição, resolveu dar um ar da sua graça. Alguém se chegara à frente para o substituir, o que, como diz, o “picou”. Até aí, nada que o camarada Costa fizesse o tinha “picado”, mas um ataque por dentro, que diabo, dava-lhe cabo da sesta!
Na campanha interna, ao mesmo tempo que dizia que ia “tratar do país” em vez de se opor ao seu rival, mais não fez que zurzi-lo por tudo e por nada. Ao mesmo tempo que dizia cobras e lagartos dos “barões” que se lhe opunham, punha os seus a cacicar à vontade. E assim por diante.
Uma vez ganha a eleição, tratou de limpar o partido. Não prometia nada, mas “não era ingrato”, o que quer dizer o contrário. Em vez de unir o partido (coisa que, nobremente, o seu challenger, não se cansava de propor), tratou de o “escanhoar”. Os militantes passaram a dividir-se entre “leais” e “desleais”, bons e maus, militantes fiéis e infiéis, ou seja, os que serão pagos e os que nada verão que não seja ostracismo. Dividir para reinar, é a filosofia do totalitarismo e da arrogância.
A seguir, veio o “recentramento”, que é o que o circo mediático, empolgado, chama à esquerdização do partido. Aqui, já não se trata de problemas de carácter, mas de erro político. Toda a gente sabe que o PSD nunca ganhou eleições sem se opor ferozmente ao PS. Se foi buscar votos ao centro (onde, é verdade, se ganha as eleições), foi porque convenceu esse centro, (cansado dos monumentais desmandos do socialismo nacional) da utilidade de votar PSD, e não porque se oferecesse em sacrifício no altar do adversário, coisa em que todos os dias insiste. Não percebeu que o PSD, diga-se ou não social-democrata, é, pela ordem natural das coisas, o partido que representa o eleitorado que vai da social-democracia e do velho republicanismo moderado à direita democrática em geral, seja ela liberal ou democrata-cristã. Não é esquerdizando que pode falar a este tão largo espectro.
É claro que, como seria de esperar, os media andam a pô-lo no altar. E ele, convencidão, arrogante, dono da verdade, redescoberto, solipsista, saído da casca, parece convencido de que há mais quem vote nele por se mostrar “cooperante” com o PS do que por opor-se a ele.
Enfim, parece que acha, se calhar com razão, que haverá quem como a sopa que quer servir ao pais, acolitado na cozinha por figuras tão altas como a do o cacique de Ovar, do senhor Silvano ou de outros que tais. Quem vale alguma coisa no PSD, ou já está na prateleira ou para lá caminha.
Não sei o que isto vai dar, mas parece que o Costa não acha nada mal.
6.12.21