O SONO DA RAZÃO
Há uma interessante observação “psico-social” que salta aos olhos de toda a gente menos dos estatistas de serviço permanente, sendo estes:
- os partidos comunistas que, por definição, são contra toda e qualquer propriedade privada e de quem nada há a esperar que não seja patacoada ideológica mascarada de “argumentos” trogloditas;
- o PS, que vai dando uma no cravo outra na ferradura, consoante os tempos, isto é, vale tudo e o seu contrário, tudo se estiver no governo, o contrário se estiver na oposição, gente sem alma nem cabeça nem pensamento nem nada que não seja sede de poder;
- umas dúzias de comentadeiros e escrevinhadores, ou burros ou parlapatões.
Que observação psico-social? Explico: as greves são todas nas empresas públicas, as meninas dos olhos do socialismo, e no Estado proprietário, deus do socialismo. Greves no sector privado? Foi chão que deu uvas. Nem o Arménio consegue convocá-las. Se alguma houvesse seria a excepção que viria confirmar a regra. Dito de outra maneira, as greves são exclusivo de gente de um modo geral bem paga, ou muito bem paga, cheia de prebendas e contratos malucos, que não teme despedimentos, não sente a falta dos salários nos dias de greve e só em casos extremos pode ser posta na rua. A cavalo nos seus “direitos”, no seu trabalho, quantas vezes pouco e mau, os tipos da Carris, do Metro, da CP, da TAP e quejandos dedicam o seu tempo, o nosso tempo, a exigir o que lhes vier à cabeça, a prejudicar os demais, a causar problemas a toda a gente, a inviabilizar ainda mais as empresas onde dizem trabalhar, a desprezar olimpicamente os seus concidadãos, num porco profissionalismo de empecilhos e canalhas.
Na TAP, alguns acagaçaram-se com a requisição civil, outros não. O governo acabou, cobardemente, por se propor “negociar”, sem perceber que aquela gente é como o Estado Islâmico, não merece negociações.
Vamos assistir a mais não sei quantas greves nos próximos tempos. Os tipos, segundo as últimas informações, já conseguiram cancealar 20.000 viagens e causar prejuízos de 6,5 milhões. Mais umas greves, e eis a TAP a valer menos uma data de milhões, umas centenas, uns milhares, tanto faz, vale a pena, é tudo uma luta de “trabalhadores” a defender os seus “direitos”.
Os interessados na privatização vão olhando com ternura a actuação desta malta. Quanto mais greves mais barata será a coisa. Como sabem que o governo, não por razões ideológicas – quem for deste mundo e deste tempo sabe que as ideologias, como o socialismo no tempo do Mário Soares, são para meter na gaveta – mas por simples necessidade, não pode deixar de privatizar, assistem, felizes, ao espectáculo: quanto pior, melhor para eles. Mas os “trabalhadores”, por mais meia hora de trabalho ou equivalente, são capazes de tudo sacrificar. Até, estupidíssimamente, o seu próprio emprego.
O sono da razão engendra monstros.
27.12.14
António Borges de Carvalho