O TEMPORA, O MORES!
Aqui há uns anos, ainda o BES vicejava, houve um projecto qualquer que implicaria um corte de sobreiros, julgo que para os lados do Ribatejo. A oposição entrou num frenesim contra a coisa. Os ecologistas de serviço desataram aos gritos. O ministro que, dizia-se, apoiava a coisa, foi crucificado no altar da incompetência e da corrupção. Os jornais não se calaram, o PS explorou o assunto de todas as formas possíveis. Tanto quanto me lembro, a coisa abortou.
De acordo. O montado de sobro e azinho deve ser preservado e até alargado.
Mas o mundo dá as suas voltas. Desta vez, o inacreditável ministro do ambiente e o ainda mais inacreditável secretário de Estado que o serve, aprovaram um projecto de um ror de hectares a ocupar com ruinosos projectos de intermitente e cara energia solar, implicando a coisa o abate de 1079 sobreiros e 4 azinheiras. O tonitruante ministro realça “a importância e elevada expressão económica do empreendimento”, bem como a sua “imprescindível utilidade pública”. E há, pelo menos, mais um projecto em vias de aprovação!
Mudam-se os tempos, mudam-se as “verdades”. Ou não. Não há nada de novo, a argumentação do ministro é a mesma de Sócrates, como nos tristemente célebres PIN, que passavam por cima de tudo e mais alguma coisa, e para quase nada de positivo serviram. Agora, ainda que a mentalidade ou os objectivos sejam de semelhante natureza, as conseqências são bem mais graves. Enfiados na trapaça da “descarbonização”, caminhamos a passos firmes para o disparar dos preços da energia (somos ricos, não é?) e para o recrudescimento das importações, mesmo que integralmente “carbonizadas”. Enfiar milhares de milhões em energias intermitentes, ocupar milhares de hectares com painéis solares, dar cabo do montado, “encher” de euros os que se aproveitam – fazem eles muito bem – das desgraçadas políticas energéticas da “modernidade” socialista, borrifar no ambiemte que se diz proteger, eis o que “orienta” o governo. E vêm aí mais quatro anos disto, sem remédio, precipitanto o país num inevitável abismo energético e económico.
Num momento em que a própria Comissão Europeia (finalmente!) classificou como limpa a energia nuclear, em que, por exemplo, a França (com quase cinquenta centrais em funções e a energia mais barata e eficaz de Europa) se prepara para construir novas centrais, o portugalito, orgulhosamente só, ou quase, restaura o mais primitivo e estúpido socratismo.
A matilha ecologista, com uma excepção, apoia.
Vivemos nisto, que é pior que o covide.
20.2.22