“OBRA SOCIAL”
O que se pode concluir da arenga do chamado ministro da solidariedade, ou lá o que é, ontem no Parlamento, é... nada. Nem que ele faça o desenho que prometeu para “explicar” o que não faz a mínima ideia de como se explica. Ou, se faz, esconde.
Em meia dúzia de palavras, o que está em causa é a decisão do chamado governo de pegar numa data de milhões de euros e de os aplicar na “reabilitação urbana”. Quantos milhões? 500, 1.400, 1.500? Ninguém saberá ao certo quantos: o que se sabe ao certo é que o chamado primeiro-ministro diz uma coisa e o do desenho diz outra, aliás prática habitual desta malta – olhem os tipos das finanças! – talvez por aplicação do princípio da “incerteza criadora”.
A genialidade da medida está na fonte do dinheirinho: as reservas dos fundos de pensões da Segurança Social, isto é, uma forma original de “gestão” das contribuições das pessoas para reforma de cada um.
Tal gestão não é coisa fácil. Onde pôr a massa a render de forma que se multiplique, que gere rendimentos, que contribua para a sustentabilidade do sistema? Pode admitir-se que haja fundos da SS aplicados no imobiliário, desde que tal aplicação tenha fortes sinais de produzir bons resultados com riscos diminutos, o que é o contrário do que propõem o chamado primeiro-ministro e o de desenho: reabilitação urbana para habitação social, com rendas administrativas.
É sabido que a habitação social, pela sua própria natureza e independentemente da sua valia enquanto tal, nunca foi, não é, nem jamais será uma aplicação rentável para os capitais nela investidos. O chamado governo é que não percebe isto, nem com cinquenta desenhos. Como não percebe nada de nada, para além de vacuidades e demagogias.
Sejamos justos: é capaz de haver aqui uma certa esperteza. É que, para haver reabilitação é preciso que haja casas para reabilitar, como diria o amigo banana. As casas que há, na sua maioria, não são do Estado, são de particulares. Por isso, disse o tipo do desenho, o capital a investir é muito mais que os 500, ou 1.000, ou lá o que é. Junta-se-lhe o real estate, que é dos particulares. Ou seja, mais uma vez o Estado “gere” o que não é seu, adianta dinheiro (que será a restituir) ao mesmo tempo que priva os particulares do rendimento, reduzido este a “rendas sociais” que, como diz a prática e a praxe pública, se não forem pagas não privam ninguém da casinha, privam é os verdadeiros investidores daquilo que é seu.
Postas as coisas de outra maneira, o Estado socialista prepara-se para mais uma operação de esbulho, a que chama “obra social”. Com as consequências sociais, económicas e financeiras que não é preciso ser bruxo, nem muito esperto, para imaginar.
6.5.16