ÓPERA BUFA
Como tem sido insistentemente referido nestas páginas, o défice de 2015, para além de mera formalidade, nada tem a ver com a guerra das sanções. O que acontece é que não há, fora do núcleo duro da geringonça, um único especialista, um só político, uma só instância, que acredite nas contas do senhor Centeno, já desmontadas em vários jornais e em múltiplos avisos e declarações. As sanções, a haver, são resultado do alegado fim da austeridade, da viragem da página para outra bem pior. Bruxelas já o disse, e de forma claríssima: ou há “medidas” em 2016, ou há sanções. Em três semanas, ouviram? Não é preciso ser sábio, ou guru, para perceber. Até os membros mais pequenos (ou maiores?) da panóplia do poder percebem. Fingem que não, mas como o que lhes interessa é dar ainda mais cabo disto, entram no faz de conta.
Animem-se. Distracções não faltam, mesmo sem contar com os gloriosos feitos da selecção mais empatadora da história, que vão ocupando uns 80% da “informação” e dando uns dinheiritos a ganhar a pelotões de “especialistas” – uns chatos de má morte. Mas há mais, que o parolo bem precisa. O chamado primeiro-ministro esperneia, já disse que o défice foi de 3, 3,2 e 4,4%, conforme a audiência. Escreve missivas secretas ao parvo do Junker onde ou muito me engano ou diz verdades inconvenientes, como elogiar Passos Coelho, o que não quer confessar ao pacóvio. O Presidente, com o seu afectuoso sorriso e o mesmo objectivo, desvaloriza as ameaças e, para descomprimir, troca inanidades e afectuosos sorrisos com o senhor Pinto se Sousa em cerimónias de província. Dona Catarina esgrime perigosíssimas patacoadas sobre as suas próprias doidices. Jerónimo, esse, mete as mãos pelos pés: é difícil aplicar a velhíssima cartilha ao que se passa na família radical. O chefe Costa diz que é preto, o sub-chefe Centeno diz que é branco, depois ambos garantem que disseram o mesmo. O trauliteiro de serviço ataca o tudesco da cadeira de rodas a julgar que o impressiona, mas o que quer é impresionar o pagode.
O princípio geral que a tudo preside é o do entretenimento da maralha, o bando de estúpidos que somos todos nós.
Não fora trágica, a ópera bufa até faria rir.
5.7.16