OPINIÕES DOURADAS
A propósito dos vistos ditos gold tem-se assistido a um surto de exemplar proselitismo moral, veiculado por tudo o que é opinante, escrevinhante, vigilante dos bons costumes e da “moral republicana”.
A crítica intelectual e “ética” chega ao ponto de menorizar os pecados da mafia que deles se serviu (funcionários públicos, teoricamente santos) transformando-os, coitadinhos, em meros intérpretes de uma bandeja cheia de dinheiro que lhes foi estendida pelo sistema.
Os tais vistos, num país que, a troco de coisa nenhuma, os tem dado (o IRRITADO não critica o facto) a uma multidão de fulanos que não trazem nada para além de si próprios – o que não é pouco -, passam a ser um crime se comprados nos termos de uma lei celerada que fornece à depauperada grei uma pipa de massa. O dinheiro que já entrou, mais de mil milhões, não é reprodutivo, não gera emprego, não serve para nada que não seja encher os bolsos a uns oportunistas.
Todas as teorias sobre o emprego, a necessidade de dinheiro, a falta de crédito bancário, etc., caem subitamente no saco dos mais hediondos crimes. Os tais mil milhões que entram nos bancos não significam nada para um país onde o dinheiro é a mais rara das matérias-primas!
Os altos polícias da moralidade pública chegam ao ponto de dizer, por exemplo, que só países de terceira (os do Báltico, Malta, Chipre, etc.) têm sistemas parecidos. E, confrontados com a realidade - países de primeira que fazem o mesmo (EUA, Canadá, França, Reino Unido… ) - desatam a dizer que é diferente, que não é a mesma coisa, e outras desculpas de mau pagador.
Há até os que ribombam que o governo está a “vender a nacionalidade”, o que é uma mentira absoluta e descarada. Vale tudo. Facto é que os tipos que compram casas não compram nacionalidade nenhuma. São como os demais, os que têm vistos à borla, isto é, os que, se quiserem a nacionalidade, têm, por exemplo, de aprender português e de andar por aí pelo menos dez anos com irrepreensível comportamento. Neste aspecto, todos iguaizinhos.
E os que falam nos direitos humanos ofendidos, por descriminação dos mais pobres? Porque não condenam os demais, as centenas de milhar de pessoas que entraram no país com uma mão atrás outra à frente e que têm vistos, licenças de trabalho e de residência, sem pagar mais que o tempo que perdem no SEF, nas repartições, na floresta da nacional-burocracia? O IRRITADO, repito, não é contra esta gente, muitas vezes boa gente, que nos faz falta e trabalha honestamente. Então porque é que uns, que não pagam, são bem-vindos, e os que pagam são, por definição, indesejáveis mafiosos?
Será racismo contra os chineses? Talvez não. É que os chineses, se forem uns tesos a vender porcarias nas lojas, são uns gajos porreiros. Se forem os importadores que dominam tais lojas sem ser objecto de vigilância, nem se preocupar com pormenores como o IVA, a Segurança Social, etc., são porreiríssimos. Mas, se trazem quinhentos mil ou mais, são bandidos.
É a mentalidade discriminatória típica das sociedades atrasadas, do socialismo “real” que entrou, via inveja, nas nossas cabeças, e tem alimentado gerações de enganados, a partir dos bancos da escola.
Que fazer quanto a estes “iranianos”? Dar-lhes crédito e criar o ministério da moralidade pública? Não. O IRRITADO recomenda: a dar-lhes alguma coisa, que seja ouvidos de mercador. Vão-se lixar, mais à sua “moral republicana”!
23.11.14
António Borges de Carvalho