OS MARUJOS
Lembram-se do famoso “documento macro-económico” do PS, utilizado para propaganda eleitoral e posteriormente arrumado no caixote do lixo, não fora começar a descobrir-se que era tudo mentira? Lembra-se com certeza. Só o PS o esqueceu, como esqueceu a obra do seu governo de seis anos, que terá deixado de ter existido.
Acontece que um alto “qualificado” da função pública, um dos cérebros do tal documento e actual geringonço, veio ontem à TV lamentar-se da sua triste desdita. É que, diz ele, os “qualificados” da privada ganham mais que os “qualificados” da função pública. Como ele é, ou se acha, qualificado da função pública, vê-se onde quer chegar, isto é, quer sacar mais algum sem fazer outra coisa senão deixar-se estar. Esqueceu-se da costumeira “declaração de interesses”, mas isso é pormenor. Também se esqueceu que os qualificados da pública têm o assento etéreo onde subiram garantido para todo o sempre, o que é uma não dispicienda “compensaçãozinha”, sobretudo para quem não está muito interessado em avançar na vida sem protecção que se veja. Ao contrário, na privada, cada qualificado, e bem, tem lugar se e enquanto as suas qualificações servirem para alguma coisa. E tem que andar sempre à procura de melhor, sob pena de estaganção. Os da função pública estão, por definição, estagnados. Não procuram melhor. Então que se deixem estar, é uma escolha com vantagens e inconvenientes, como todas as escolhas.
Se eu estivesse lá na conversa da TV teria perguntado ao homem se não estaria interessado num lugarzinho na privada, melhor pago, mas dependente da forma como exercesse o cargo. O homem estremeceria e, indignado, chamar-me-ia, pelo menos, provovador neoliberal.
Quer isto dizer que a geringonça está preocupada com as suas clientelas, muito mais que com o que se passa cá fora, no mundo livre. À pala da luta contra a precariedade, vai metendo mais marujos no barco do Estado, ou seja, vai criando mais encargos para os que andam a nado.
Facto é que quem anda a nado, exceptuadas umas dúzias de “qualificados”, ganha menos e tem emprego enquanto tiver. Sabem porquê? Porque vive na triste realidade, enquanto os do barco estão atracados à terra do nunca, e estão muito bem. O pior será quando os da triste realidade deixarem de ter dinheiro para pagar aos marujos.
14.4.17