OS NEGACIONISTAS
Os chamados negacionistas serão mesmo gente? A pergunta é legítima, mas tem razão de ser. Se existem, não são gente, são outra coisa, inimigos, idiotas, fascistas, ignorantes e demais mimos da cartilha em vigor.
Podem ser vistos na net. Há muita ignorância na net, é verdade. Mas serão todos os negacionistas umas bestas? Conheço vários que o não são. Pelo contrário, são cidadãos que têm as suas razões e as defendem com argumentos inteligentes.
A pergunta é: porque é que só têm presença na net? Na net vale tudo, o responsável e o irresponsável, quem é sério, inteligente, responsável, legitimamente preocupado e informado, vale tanto na net como o catastrofista, conspiracionista, idiota ou desordeiro, sem distinção ou contraditório?
Alguém já viu um negacionista na TV? Alguém já leu, na imprensa, assinado, um artigo negacionista? Os negacionistas com pés e cabeça não têm direito à opinião a não ser enquanto objecto de insultos, estes com palco e fartura de loas. Não existem enquanto pessoas pensantes e cidadãos de pleno direito? Será que só se podem manifestar na rua ou em desordens e vandalismos, cortadas que lhes foram vias legítimas de pôr a suas ideias à discussão pública?
Será que há censura, social, oficial eprofissional? Há. Os negacionistas não têm o direito de existir, de se pronunciar, de dar a cara?
É um caso cada vez mais generalizado, e não tem só a ver com as políticas ditas sanitárias. O mundo em geral - e o nosso mundinho em particuar - tendem perigosamente a estabelecer verdades únicas, totais, irrespondíveis, obrigatórias, e a reger-se por elas. O direito ao contraditório, à discordância legítima e pacífica, está moribundo. O políticamente correcto tomou o lugar da liberdade de pensamento e de expressão. No caso do covide como em muitos outros. A verdade e o direito passaram a ter sentido único, a condenar a divergência e, com ela, os divergentes.
Science is settled, é a frase da moda. Se está settled, não se pode discutir. É negação da ciência, da dúvida metódica, do direito ao debate. Quem não for adepto das verdades do politicamente correcto, ou não existe, ou não devia existir. Está a mais.
2.11.21