OS RADICAIS
Toda a gente sabe que os radicalismos estão na moda: há-os de esquerda, de direita, do desporto, dos deficientes sexuais, das condecorações, comendas e penduricalhos afins, da pancadaria cinematográfica, do patrioteirismo parolo, etc.
Portugal distingue-se dos demais pela ausência de radicalismos de direita e pela abundância dos demais. À esquerda, temos os do PC e os da Bloca, aos quais se acrescenta, venerador, obrigado e radicalíssimo, o antigo partido do “socialismo democrático”, vulgo PS.
Originais como sempre, temos, de há uns tempos para cá, mais um importante radicalismo: o da incompetência. Os primeiros sinais desta corrente política foram dados a tempo e horas, consubstanciados nas teorias do consumo salvador e do mágico fim da “austeridade”. O eleitorado não acreditou na coisa, mas, mercê de inesperadas “interpretações”, ela entrou em vigor, com os resultados que estão à vista – endividamento das famílias, despesas sem receitas, confiança zero, investimento zero, etc.
E a incompetência radical lá foi fazendo o seu caminho, num mar de mentiras, de números de circo, de propaganda, de disse-que-disse-e-não-disse, de “negociações” entre esquerdões, esquerdófilos e esquerdoidos, de apalermadas lutas contra Bruxelas e contra mais uns 25 países da União, de nacionalizações (verificadas e anunciadas), de broncas e mais broncas.
O auge desta nobre tendência é-nos oferecido pela monumental palhaçada da CGD. Uns tipos acabaram o mandato em Dezembro. Estamos quase no fim de Agosto e a confusão aprofunda-se. O sacrossanto banco do Estado, “nosso” – nosso uma ova – está há oito meses sem ter quem mande, sem objectivos, sem decisões, a perder dinheiro todos os dias como é apanágio das empresas públicas e das privadas que se penduram no Estado.
O incompetentismo está esplendoroso, radicalíssimo, a dar lições ao mundo. O BCE descobriu que o chamado governo nem as leis do país conhece. Mandou uma data de novos “administradores” dar uma curva. Aos demais, aplicou um programa de novas oportunidades, educação de adultos ou coisa que o valha. Quase tão incompetente como o Centeno, o BCE acha que há que lá pôr mais três mulheres resolve o problema. Alto critério de competência, aliás em voga.
O Centeno, meio apatetado, desapareceu da liça e mandou um chamado secretário de Estado dizer uma interminável série de disparates a que acrescentou algumas flores de retórica, metendo os pés pelas mãos com a arte e a credibilidade que são próprias do incompetentismo radical.
Note-se que, no meio disto tudo, há um problema socialisticamente menor, como diria o 44: uns míseros cinco mil milhões de euros. Trocos que, por insignificantes, desculpam todas as farsas, não é?
A degradação do cómico é tragédia.
Esta tragédia tem outros capítulos que, por questões de higiene, não descreverei.
Haveria algumas perguntas a fazer, se valesse a pena. Por exemplo:
- Onde está o Presidente da República?
- Como é que um gestor, ao que dizem sério e competente, aceita andar metido nesta palhaçada?
- Como é que os outros também se deixam ficar?
- Como é que o chamado ministro das finanças não vai à vida e não leva consigo os seus secretários?
- Quando é que a malta acorda?
19.8.16