PACIÊNCIA E ROTURAS
Falando em nosso nome, o senhor de Belém declarou que nós “preferimos a paciência dos acordos à volúpia das roturas”.
A primeira parte do dito não parece ser referência aos nossos “brandos costumes”. Não vejo que interpretação outra se possa dar a estas palavras que não seja a de (mais) um elogio à “paciência dos acordos” do PS, do PC e do BE, que levaram à formação dessa maravilha do século que dá pelo nome de geringonça. De uma penada, o nosso mais alto representante justifica: a defenestração do Seguro; a usurpação do poder dos votos a favor de um arranjo que se diria, e é, espúrio, por mais que se “justifique” a sua origem burocrática, mascarada de “democracia parlamentar”; o nascimento de um governo de enganoso propagandismo; o caminho, já declarado, para novo desastre financeiro, etc, etc..
A condenação da “volúpia das roturas” é o contrário do que diz, já que elogia quem as fez, sem vergonha nem honestidade: rotura com um passado constitucional que respeitava os resultados eleitorais; rotura na entrega do poder ao menos votado; rotura quando, em vez de respeitar a vontade do eleitorado, se forma um governo à sua revelia. Isso sim, foi “volúpia de roturas”, roturas cujo triste resultado é o que se vê e merece as presidenciais loas.
Por outro lado, Sua Excelência está muito contente com os “muitos portugais que garantem a riqueza do país”. Aceite-se a imagem dos “muitos portugais”. Mas riqueza, qual riqueza? A que riqueza se referirá? De quem? De que “portugais”? Talvez dos portugais de Londres, ou do Massachussets, que nem por sombras voltarão, porque voltariam à pobreza. Por aqui não há riqueza nenhuma, só somos ricos em dívidas, as mais delas contraídas pelos mesmos que ora se dedicam a aumentá-las.
10.6.18