PERSEGUIÇÕES
O mandato do engenheiro Joaquim Ferreira do Amaral ficou marcado pela construção da ponte Vasco da Gama, pelo alargamento da ponte 25 de Abril e pela introdução, nesta, do caminho de ferro, entre outras coisas. Começou a ser perseguido porque a Ponte nova ia dar cabo da passarada da Reserva Natural do Estuário. Ouvida a melhor especialista em tal matéria, borrifou nos “ecologistas” fundamentalistas. A ponte foi construída. Verificou-se que as aves não ligaram nenhuma às ameaças e continuaram a andar por ali, ali vivendo, ali se reproduzindo em paz e sossego e por ali migrando.
O Estado resolveu entregar a exploração das pontes a uma empresa privada. Nova perseguição. O eng. Ferreira do Amaral, escolhido para presidir a tal empresa, era um explorador do povo, um oportunista, um tipo das “portas giratórias”, o diabo a quatro. Ocorre-me perguntar se haveria em Portugal melhor gestor ou alguém melhor preparado para a coisa. Mas a vozearia continuou. Um taxista, um malandro, a taberna do costume levou anos para se calar.
A que propósito vem isto, tantos anos depois? Resposta: a propósito da nova “moral republicana”, sempre pronta às mais variadas perseguições. Vejam esta: a família do Primeiro Ministro tem uma empresa com fins de consultadoria imobiliária, em cujo objecto social figura a compra e venda de patrimónios. Crime! Ofensa à “moral republicana”, coisa que ninguém saberá o que é, mas que serve para as mais rebuscadas perseguições, como no caso dos passarinhos do estuário.
Vejamos um exemplo: o governo, bem ou mal, quer levar por diante uma lei que autorizará os municípios a libertar terrenos sem uso agrícola ou reseva ecológica para construção de habitação. Portanto, rezam os taberneiros da ecologia, o Primeiro Ministro prepara-se para construir prédios em tais terrenos. A lei ainda não foi aprovada, o homem não faz ideia de que terrenos serão “libertados”, nem por que Câmaras, nem onde. Mas a taberna vê longe: pode ser que, um dia... por isso o homem é um malandro. Ponto.
Há quem pergunte porque é que os “melhores” fogem da coisa pública como o diabo da Cruz, ou porque é que o sonho de qualquer bom estudante é dar o fora para onde não se seja perseguido e até se ganhe melhor. É que a alcateia moralista e “ecológica”, à esquerda, à direita e ao centro, prolífica em processos de intenção, com os media às ordens, se atira, com razão ou sem ela,a tudo o que mexe.
Depois queixem-se da descida de qualidade dos políticos e da política. Parece, e é, que só lá chega quem tiver como único currículo, o partidário. Os outros, mesmo que os partidos os quisessem, não estão para ser perseguidos, seja por mal fazer, seja por poder um dia vir a fazê-lo.
16.2.25