PERVERSIDADE
Segundo o guru económico da geringonça, a distribuição rápida de uns largos milhões levaria, inexoravelmente, ao relançamento da economia. Não levou. Levaria ao aumento da poupança. Não levou. Por “simpatia”, levaria à diminuição da dívida. Não levou.
Em vez de aprender a lição dos factos, a geringonça insiste em receitas perversas.
A TSU é uma delas. Baixar a TSU com critérios de compensação do aumento do salário mínimo é o mesmo que dizer que a economia não suporta tal aumento, isto é, que toda a política económica da geringonça não passa de um engano conceptual, de um embuste político e de um retumbante falhanço. Baixar a TSU só para alguns, e só “a prazo”, é um erro colossal. Incentivar o patronato a adoptar salários mínimos para ter vantagens financeiras “compensatórias” é um ataque aos interesses de quem trabalha é um retrocesso brutal no plano da justiça fiscal e da justiça tout court, um ataque à tão proclamada “igualdade”.
A TSU devia baixar para todas as empresas, sem distinção de salários ou de contratações. Seria, isto sim, um incentivo económico importante, o qual, se causaria problemas financeiros de curto prazo à Segurança Social, acabaria por financiá-la a médio/longo prazo. É para aquele curto prazo que servem as respectivas reservas financeiras.
Outra receita perversa é a manutenção dos constrangimentos económicos que as leis do trabalho (contra o parecer da OCDE, do FMI, da UE) continuam a provocar. Inverter a tendência reformista que vinha do governo anterior significa manietar a mobilidade laboral, em nome de uma “estabilidade” estúpida e, mais uma vez, de resultados comprovadamente ruinosos. Até o tal guru da geringonça, Centeno de seu nome, apesar de ora “esquecido”, é, ou era, desta opinião quando estudava o assunto no Banco de Portugal!
A perversidade prolonga-se nos contratos colectivos, forma de obrigar a liberdade de cada um a submeter-se aos ditames de quem não representa outra coisa que não seja superestruturas político-sindicais, não de carácter social mas de mera fé ideológica.
Substancialmente, a política da geringonça tem todos os ingredientes para manter a paralisia social e a ruina económica.
Dirá quem “observa” que o culpado não é o PS, mas aquilo que a “estabilidade” política impõe e a que o PS não pode deixar de se submeter: as exigências dos comunistas do PC e do BE. Será? Duvido. Ninguém sabe o que é o PS do Costa, se um coitadinho nas malhas que os outros tecem, se são os outros que fornecem ao PS os argumentos de que precisa para executar o seu próprio projecto, negando um passado onde houve sempre alguma dose de seriedade.
É isto o mais inquietante. E o que a presidencial cegueira santifica.
24.1.17