"PORTUGALHICES"
Quando eu andava no liceu, se me referisse a “uma caneta em plástico, o professor de português, depois de me dar uma ponteirada no toutiço, perguntava:
- Onde é isso?
- Isso quê, Sôtor?
- Plástico. Onde fica essa terra?
- …
- Pois, seu parvalhão, você disse que a caneta era em plástico. Devia dito de plástico…
Passaram décadas. Hoje tudo é em madeira, em ouro, em papel… Ou seja o português “evoluiu”. Quer dizer, é todos os dias alvo de tentativas de assassinato.
Há coisas que nasceram com a III República, julgo que por influência castrense. Por exemplo: confrontou-se com… um horrível pleonasmo e um impossível pronome reflexo convictamente usados por políticos, literatos, locutores, e por aí fora. Outra é face a, coisa sem sentido, em vez de em face de, como se diz em português, na senda de frente a em vez de em frente de, como em português se diz. Já não há quem não pratique coisas destas, com afinco e altivez.
E os pode-se dizer e correlativos que por aí andam todos os dias, por toda a parte e nas mais responsáveis bocas?
Os jornais são um fartote. Tenho aqui, de hoje, três exemplos, entre centenas deles. Olhem esta: “…F. juntou-se a X. para darem asas”… F e X são cozinheiros. Terão desculpa. Mas, no mesmo jornal, o Prof. Pulido Valente brinda-nos com igual bojarda: “…Quando apanham uns tostões é para se mascararem…”. Continuando a leitura, encontro: “Sim, vivem-se tempos…”. E que dizer de um grande, grande escritor como António Lobo Antunes que, apesar de assessorado por uma data de doutoras, dá pontapés destes, linha sim linha sim?
Se estas coisas não passassem do vendem-se andares, em que o verbo concorda com o complemento directo em vez de concordar com o sujeito, enfim, seria um erro de quem andares vende. Mas é o dia-a-dia dos nossos escritores, jornalistas, professores, tipos da rádio, da televisão…
O IRRITADO não é linguista, nem gramático, nem se gaba de saber mais que os outros, nem terá autoridade académica para dar largas a este tipo de irritações. Não resiste, é tudo. Aprendeu português quando o português era respeitado.
Deixem lá. Se falasse no acordo ortográfico a irritação era pior.
26.9.15