PRECATEM-SE
Foi há trinta anos que a história começou. Descido de beirãs terras, um badameco local, ignorado técnico camarário, especializado em assinar projectos de terceiros e obscuro sócio do PS local, chegava ao Parlamento. Segundo a informação disponível era um tipo dado a ecologias, razão pela qual criaria e chefiaria a até então inexistente ala a tal dedicada nas hostes maçónicas, jacobinas, social-democratas e proto-marxistas da organização.
Como tantos outros (Vara e Lima, por exemplo), deslumbrou-se com Lisboa e com o mar de oportunidades em que a grande cidade era pródiga. Na giga-joga partidária, uma certa palheta e a desenvoltura atrevida dos ignorantes foram determinantes para uma ascensão a que, pouco tempo depois, Guterres foi sensível, nomeando-o secretário do ambiente. Aí, os horizontes dos negócios e do poder, não os da política propriamente dita, abriram-se-lhe de par em par, atraindo-o para voos mais altos e mais valiosos que as manobrinhas camarárias das berças. O “ambiente” transformara-se no negócio milionário que continua a ser, da limpeza de supermercados às “energias renováveis”. O homem convenceu-se de que era gente. Gente que, no triste panorama do partido, facilmente ganhou direito de cidade. Estava lançada uma carreira de sucesso.
A inteligentsia do partido percebeu que tinha à disposição um palavroso fala-barato, o ideal para a ala mais numerosa e mais ignorante do eleitorado. De ministro a líder, de líder a primeiro-ministro, foi uma viagem sem escolhos, uma avenida pavimentada pelo golpe de Sampaio que destruiu “ex-catedra” a maioria parlamentar existente para a substituir pelos seus.
Depois, foi o tresloucado caminho que se conhece, em que a “verdadeira” política falava de cifrões e se ia disfarçando com algumas modernices. Entretanto, as broncas eram às catadupas. Mas, alicerçado nos que hoje estão de novo no poder e em certas amizades institucionais, o nosso homem ia evitando a chuva que molhava terceiros.
Saídos os amigos do galarim da Justiça, arruinado o país, vindo um novo poder menos permeável a negociatas e arranjinhos, as coisas mudaram radicalmente. As estrelas que iluminavam o badameco apagaram-se. Ainda que os companheiros do sucesso tenham voltado à tona, fizeram-no rodeados de cuidados e com a água bem sacudida do capote.
O pobre “engenheiro” anda a contas com a Justiça. Seja o que for que esta decida, a careca está à vista de toda a gente.
Mas já não seria a primeira vez que um tipo destes regressava em glória. Adeptos não lhe faltam, alguns bem poderosos.
Precatem-se.
12.10.17