PRESIDENCIAL BOTÂNICA
O jardim das presidenciais acaba de receber um reforço notável. Ao canteiro de pretendentes junta-se o fanado brilho de mais uma flor, as pétalas da pouco pujante corola sustidas por quantidades de laca a fazer inveja a outra do mesmo nome, o frágil caule a dobrar sempre a favor do vento, os espinhos visivelmente eriçados, todos a arranhar na mesma direcção. Diz-se, no mundo das flores, que o ódio faz bem à osteoporose e que a maledicência é, para o colesterol, melhor que sinvastatina. Possivelmente é daí que deriva a feroz vitalidade do que se julgaria ou sazonal ou caduco, como no caso do exemplar em apreço.
Raivonuela vulgaris socialicencis, como é cientificamente conhecida, a nova aquisição do jardim foi oferecida por um aspirante a botânico oriundo da firma Plantações Costa, horto onde se criam plantas carnívoras e venenosas, o ideal para o presidencial jardim. Já por lá havia um anão, mitológica decoração, um indispensável cata-vento, há quem queira lá pôr um rio e, à espreita, quase a ser adoptado, um cacto expressamente produzido pela Universidade para o efeito, ao que consta malcheiroso. Outras espécies são aguardadas, uma certamente provinda do que resta das estepes, outra, quem sabe, oriunda de mutações nelas ocorridas.
Um jardim pouco recomendável, cuja produção futura, a haver alguma, muito contribuirá para a alimentação de ofídeos e escorpiões.
20.2.15
IRRITADO