PRESIDENTES DE QUÊ?
Há para aí 20 anos, publiquei um livro (Europa-América) cujo título era “O presidente de nenhum português”. Reunia uma série de artigos (hoje dir-se-ia pomposamente, ensaios, mas eu não digo), e aquele era o título de um deles.
Defendia eu, e continuo a fazê-lo, que ao PR não compete ser seja de quem for. O PR é da República, não das pessoas, o que, além de justo, é o que diz a Constituição. Mas a demagogia, instaurada por todos os presidentes e aspirantes a tal, habituou-nos a pensar que temos, pessoalmente, um presidente, que será de todos e cada um. No fundo, é o mesmo que dizer que não se é de ninguém. Não faz sentido, mas não interessa.
Na actual campanha, todos os candidatos - à excepção de Ventura, que comete o mesmo erro, mas com excepções – se consideram ou se candidatam a ser presidentes das pessoas. De todos nós.
As pessoas não têm presidentes, quem os tem são as instituições, república incluída. Querer pessoalizar, porventura para, propagandísticamente, inculcar que se é igual para todos, é um erro conceptual e um abuso de direito. Como o erro e o abuso são gerais, os cidadãos tendem a aceitá-los, ou por comodismo ou por se ter tornado verdade, uma vez parlapatado por todos os candidatos e todos os presidentes.
Dirá quem me lê que isto é um preciosismo idiota. Talvez. Mas tenho todo o direito (por enquanto...) a chamar a atenção para o assunto. Aliás, na tão falada Europa, não consta que os presidentes sejam de outra coisa que não as respectivas repúblicas. Até os reis (à excepção do Rei dos Belgas) o são de países, não de pessoas.
Uma coisa é alguém dizer que “este é o meu presidente ou o meu rei”, porque gosta do titular do cargo ou porque, directa ou indirectamente, nele votou. Outra, totalmente diferente, é que sejam tais titulares a arrogar-se essa qualidade.
E pronto, não terá importância de maior, mas aqui ficam os meus pontos nos is.
10.1.21