QUANDO MAL, SEMPRE PIOR
Às vezes meto conversa com os comerciantes aqui da zona.
Dona Carmelinda, patroa de uma loja de cabeleireiro contou-me que uma empregada se tinha despedido porque trabalhar não valia a pena. Tinha prestações do governo, rendimento social ou coisa que o valha, a junta pagava-lhe a renda e mandava-lhe uma refeição quente todos os dias. Parece que, no caso, ainda estava candidata a outro subsídio qualquer. Trabalhar para quê? Facto é, dizia a Carmelinda, que não há quem se ofereça para trabalhar, tenho vagas mas não quem as queira.
O senhor Luís, ilustre dono de duas tabacarias, contava coisa parecida: calcule que ando há dois meses a pôr anúncios, e não há quem queira vir para aqui aviar ao balcão!
Naturalmente, achei que a Carmelinda e o Luís, ou andavam a contar histórias ou pagavam tão mal que ninguém os queria. Que fossem bugiar!
Eis senão quando vem o IEFP deitar uns números cá para fora. Para citar dois ou três exemplos (há-os aos pontapés), na construção há 2.562 ofertas de trabalho que ninguém quer, no alojamento e restauração são 2.358 e, ao todo, em Julho havia 11.486 ofertas de emprego por preencher. Números oficiais, o que quer dizer que os do mercado em geral são bastante mais altos.
Parece que, afinal, a Carmelinda e o Luís tinham carradas de razão.
Eu sei, eu sei que os ordenados são miseráveis, o que torna a pendura pública uma oportunidade a não subestimar. Mas também sei que a pendurice social tem evidentes efeitos anti-sociais, anti económicos e, pior, mete ilusões na cabeça de cada um cujo resultado será, a curto ou médio prazo, catastrófico.
Outra solução, que não a dependência institucionalizada, tem o chamado governo para problemas deste género: a concretização de ofertas públicas de emprego às dezenas de milhar. É o ideal: emprego para a vida, garantido pelos impostos das minorias pagantes e pelo desmesurado inchar da dívida.
Não sei quando isto acaba, mas sei como: acaba mal, muito mal.
14.9.21