REAIS RECORDAÇÕES, REAIS ACTUALIZAÇÕES
Há para aí trinta anos, este bloguista (ainda não havia blogues) foi, com mais umas cem pessoas, recebido no Plalácio de Buckingham por S.M. Isabel II.
À porta do salão,um tipo engalanado batia com um pau no chão e anunciava os nomes da malta, escritos nos convites que lhe mostrávamos. Depois, em bicha, lá íamos, respeitosos e emocionados, cumprimentar a Senhora. O protocolo era feroz. Devíamos estender a mão, dizer, Ma...am, e seguir sem mais delongas ou bitates. Jamais beijar a mão de Sua Majestade, jamais lhe tocar, para além do aperto de mão. Compreende-se.
À minha fente ia Jaime Gama e, antes dele, um outro amigo, que já lá vai e cujo nome, por isso, não citarei. Este, curvou-se profundamente, apertou a mão à Senhora e, com um inglês do Bulhão, perguntou-lhe: “Vossa Majestade lembra-se das sardinhas que comeu no Porto em 1954?” S.M. sorriu profissionalmente,sem perceber patavina, julgo eu. Mas o nosso amigo não arrancava. Jaime Gama, discretamente q.b., dava-lhe com a biqueira do sapato nas canelas e sussurrava: anda pá, mexe-te. E foi preciso agarrá-lo pelo cotovelo para o arrancar do estado de encantamento em que estava.
Lembrei-me desta história ao ver o nosso Presidente a) beijar a mão à Rainha e b) desatar a dizer que a tinha visto no Terreiro do Paço quando era pequenino e também, já crescido, no Britania, nos anos 80.
Mutatis mutandis, o ridículo é o mesmo. Uma tristeza. Ainda bem que o resto da conversa não foi filmado, o que nos poupou a mais vergonhas.
18.11.16