REGRESSO AO PASSADO?
Ontem, em feliz comemoração da “abertura”, fomos almoçar fora, à beira mar, um peixinho e uns camarões da costa.
Entrámos sem máscara, à experiência. Um simpático rapaz veio ter connosco e explicou, solícito, que não podíamos entrar sem máscara. Então, come-se com máscara? A resposta foi do melhor: não podem entrar sem máscara, mas, cá dentro, podem tirar a máscara. Lembrei-me de perguntar se o tipo queria que saíssemos, puséssemos a máscara para entrar e, uma vez lá dentro, tirássemos a máscara. A pergunta teria toda a lógica, mas não a fiz, abonando assim a minha própria inteligência e não baralhando a lógica obrigatória do rapaz.
Havia montes de mesas livres, das mais perto do mar e, sendo ao ar livre, nelas podíamos fumar à vontade.
(as “autoridades” ainda não se lembraram de proibir os cigarros nas esplanadas, mas já faltou mais)
Sentámo-nos. Pedimos uma imperial e um copo de branco. Durante dois minutos respirámos a brisa das salsas ondas. Até que apreceu um fulano, devidamente mascarado, que, pedindo muita desculpa, declarou que aquela mesa estava reservada para “uns senhores”.
(se os “senhores” fossem o Costa, o Marcelo, a Temida, ou alguém da mesma laia, tínhamos dado à sola para nunca mais voltar)
Aleguei que havia uma data de mesas iguaizinhas que estavam livres. Pois, mas são das proibidas por causa do “distanciamento”, insistiu o mascarado. Dobrando a espinha, deixámo-nos levar para um mesita nos confins do vasto restaurante, rodeada de mesas vazias.
(o dono do restaurante abancava na zona com quatro ou cinco amigos, talvez, não sei mas desconfio, por ser amigo dos fiscais do covide)
Não sei se, nestes casos, a desobediência civil se justifica, mas enfim, à cautela... tínhamos fome, que se lixe. Pedida a lista, foi-nos dito que não havia. A lista estava em cima da mesa, corporizada numa espécie de selo aos quadradinhos. Ou tínhamos acesso àquilo através do telemóvel, ou teríamos que desinfectar as mãos
(em vez de pratos e talheres, havia um frasco de desinfectante em cima da mesa)
e, após desinfecção, poderíamos ler um cartapácio, o qual seria desinfectado à nossa vista, antes e após leitura. Resolvemos o problema com trinta e um de boca, escolhendo um peixe de entre os que um dos mascarados nos disse que havia.
Comemos bem. Valeu a pena. Mas, em matéria de regresso ao passado, zero. Acho que entrámos no futuro, um futuro negro, cheio de covides e de tarados prenhos de “autoridade”.
19.8.20