RUI RIO
Caro licenciado Rui Rio
Há anos, teve V. Excelência uma extraordinária vitória nas eleições para a Câmara do Porto. Não houve quem não louvasse (e estranhasse) a coragem com que pôs o futebol – e o sr. Pinto da Costa – no seu lugar. Não há quem não reconheça que a sua gestão foi geralmente positiva. Por isso, e pela fama de rigor que granjeou, muita gente do PSD lhe deu uma vitória, ainda que marginal, sobre Santana Lopes.
No entanto, assim que tomou o poder dentro do partido, fez-se rodear de figuras ultra-controversas, por arguidos em vários processos judiciais, por gente que destruía, sem apelo, as suas promessas de “ética” política. A sua apregoada “renovação” do partido acabou por não passar de perseguições internas e processos de “limpeza” que, por incoerentes com as subidas partidárias de figuras mais que discutíveis, puzeram a sua ética entre aspas.
Politicamente, durante longos meses, a sua acção não passou de promessas de consensos sobre o “interesse nacional”, de subservientes aproximações ao PS, sem perceber que o PS não quer, nem precisa, do PSD para nada que não seja cavalgá-lo, servir-se dele se for o caso, tratá-lo com o desprezo próprio dos canalhas – como fez quando, em vez de se ater ao resultado das eleições, recusou qualquer contacto com o vencedor, antes o traindo, menosprezando e apoderando-se do poder sem que qualquer leitura da vontade popular tivesse sido tida em consideração. V. Excelência não percebeu que uma autêntica ética política imporia a recusa de aproximações com quem, politicamente, de ético nada tem.
É evidente que as suas atitudes não podiam deixar de causar revolta dentro do seu partido. E não se diga, como o senhor faz, que se trata de gente que tem medo de perder assentos. Na sua esmagadora maioria, é gente que ama o seu partido e que o vê a derrapar perigosamente para níveis mais pobres que o imaginável de há uns meses. V. Excelência, bem como a sua entourage, não têm força, ou ideias, que possam distinguir o partido ou prepará-lo para eleições.
Dadas as prebendas que o PS tem dado a um eleitorado acrítico e acomodatício, a sua tarefa seria sempre difícil, quiçá ingrata. Mas sê-lo-ia por vivermos num país afogado em propaganda, fátua quão sonora, esquecido o futuro, a economia, um país sem projecto nem visão. Mas tão má ou pior que tal propaganda é, para o PSD, a ausência de uma denúncia diária do que é a realidade e as perspectivas de futuro, é a estagnação ideológica e política que tem sido timbre da sua liderança, os sucessivos “tiros no pé” que caracterizam a sua (in)acção e a dos seus próximos no partido.
Há que pensar duas vezes. Se o fizer, se perceber que ainda vai a tempo de salvar alguma coisa a tempo das eleições legislativas de 2019, por favor demita-se. Será um sacrifício que o país compreenderá e saberá agradecer.
27.11.18