SACUDIR A ÁGUA DO CAPOTE
Vivemos num país de capotes encharcados. Mas, grande feito da “alma” portuguesa, somos mestres em sacudir as incómodas águas que o molham. Ao mais alto nível da Pátria estão vários especialistas doutorados na matéria a dar um lindo exemplo de como a molha é gerida.
Para a recepção “humanitária” de ucranianos, a Câmara de Setúbal contratou dois notórios adeptos do camarada Putin, os quais, prenhes de “solidariedade”, se dedicaram, ou dedicam, a investigar o paradeiro das famílias dos refugiados e a obter outras informações, certamente muito úteis para os seus amigos da embaixada russa.
Olhem agora as doutas palavras do Presidente: temos entidades que se dedicam a estes casos, não tenho nada com isso. Olhem os habituais dizeres do primeiro-ministro: há quem trate disso, não tenho nada com o assunto. Olhem a bailação do presidente da câmara, ilustre membro do PC, ou dos Verdes, o que é a mesmíssima coisa: vou fazer um inquérito, diz ele. Até o artista/ministro que se diz ser responsável, coitadinho, não deve ter nada com isso.
Ninguém sabe ao certo (uns dizem uma coisa, outros outra) quais as entidades que tratam do assunto. O país é farto em entidades altamente competentes que sacodem o capote para cima umas das outras. É uma arte nacional.
Não há jurista que não diga que, de um ponto de vista legal, administrativo, penal ou outro qualquer, ninguém fez nada de mal.
Portanto, ou o assunto não é assunto, ou o assunto é político. Mas, como sempre, ou como é inveterado hábito da Nação, super aumentado desde que o Costa trepou para o poder, politicamente não há responsáveis, nem culpados, nem nada. Os assuntos chatos são para morrer na praia. O tempo trata disso.
No parlamento, com a impante maioria Costa, mais paleio menos paleio, tudo ficará na mesma. Até que os jornais deixem de achar que o assunto vende. Quando deixar de vender, acabou.
E pronto. Mais entidade menos entidade, as coisas vão acalmar. Ou muito me engano ou, daqui a dois anos, ainda andarão todas a discutir qual delas trata do assunto. Como, entretanto, o assunto deixou de existir, qual é o problema?
Nota final: a putinesca senhora que assessorava o espião do Putin foi “dispensada”. Como bode espiatório, é pouco. Mas, para quem manda, bacalhau basta.
2.5.22