SELECÇÃO NACIONAL
A visita do senhor de Belém ao Trump tem sido universalmente elogiada. Grande triunfo da diplomacia portuguesa, alto exemplo da importância de Portugal no mundo, na Europa, no Atlântico, extraordinária performance política, pessoal, pontos nos is, etc, não há encómio que o senhor não mereça.
Confesso que não dou por tanto brilho nem por tão relevante importância de tal visita. Defeito meu, com certeza.
Há uma passagem do presidencial diálogo, muito louvada, que chamou a minha atenção. Quando, mais ou menos a despropósito, o nosso Presidente se espraiou em elogios ao Ronaldo, Trump perguntou-lhe se o tal Ronaldo, de tão bom, não poderá vir a ser candidato à presidência. E – aqui é que bate o ponto – a resposta foi: “Portugal não é os Estados Unidos”. O que, vistas as coisas com olhos de ver, quer dizer que, em Portugal, um Ronaldo não chega a tal, como chegou um Trump qualquer. Quer dizer: Portugal não é a bagunça política dos EUA, não basta a futebolística (ou a televisiva) fama para chegar ao topo da política. Leio isto como uma ofensa ou, pelo menos, um pontapé na gramática da diplomacia.
Mais um erro meu - o de ter dado por isso. O Trump, por burrice ou por não estar para chatices, não deu por nada, não se ofendeu, ao contrário do que lhe é habitual não deu à casca. Nem por nada deram, cá no sítio, os comentadores, os jornais, as televisões & companhia.
O assunto não foi censurado, foi seleccionado para não vir à tona. É o que chama selecção nacional.
29.6.18