SEM PAPAS NEM BOLOS
O Novo Banco vendeu património tóxico por preços ditos abaixo do valor de inventário. Levantou-se uma onda de protestos, declarações políticas, artigos de jornal, o diacho. Anda meio mundo entretido com a história.
Num país em que as “autoridades”, “entidades”, “reguladores”, “comissões”, etc. e tal, se multiplicam como cogumelos, eis que o banco faz passar as tais vendas por todos os ficalizadores com poderes sobre o assunto. Todos as aprovam, e eis que, afinal, segundo milhares de abalizadíssimas opiniões, a coisa é suspeita e até a procuradoria da República é chamada para vasculhar os “crimes” que a dona Mortágua, o senhor Rio e quejandos não deixarão de descobrir.
Vamos lá a ver. O Centeno vendeu o BES a um fundo americano, e criou o Novo Banco, um banco “bom”, sem imparidades - como agora se chama aos buracos. Mas o tal fundo, que não é parvo, tratou de descobrir que havia por lá imparidades com fartura, e tirou o cavalinho da chuva: ficou estatuído no contrato que subscreveu com a geringonça que, a haver prejuízos na tapagem dos buracos, tais prejuízos eram da responsabilidade do Estado. Feitas as contas aos milhões envolvidos, o tal Estado, ou a geringonça por ele, criou um fundo de milhões para cobrir os inevitáveis prejuízos. Vai daí, como era esperado, deu-se o que se dá em todas as operações do género: cumprindo as normas aplicáveis, os activos “imparidogénicos” foram vendidos à melhor oferta, com vastos prejuízos em relação aos seus valores contabilísticos.
As vendas foram feitas com autorização de todas as entidades competentes, cumpridas que form as normas dos vários reguladores - o principal dos quais hoje em dia nas mãos do mesmo Centeno que assinara o contrato -, os restantes cumprido o estabelecido pela geringonça e seus vários agentes. Os milhões estavam distribuídos por tranches, a pagar em determinadas condições. A certa altura, o primeiro-ministro, ignorante na matéria, vergou-se à demagogia do BE e declarou que nem mais um tostão, pelo menos enquanto não se soubesse o resultado de uma auditoria. Veio a saber-se que tal auditoria nada tinha a ver com o assunto e que o Centeno já tinha pago a fatia para a data e o montante previstos, sem dar cavaco ao chefe (não tinha que dar). Tudo nos conformes, excepto as bocas maradas do Costa.
A alcateia movimentou-se. Se não havia ilegalidade, tinha que haver. Se calhar, até havia crime! Daí, começou nova dança, para entreter o pagode. E veio a tal auditoria que, por “acaso”, até se referia aos tempos do antigo BES, coisa que já está ao cuidado da Justiça. O governo, como de costume, em vez de defender o que era da sua única e exclusiva responsabilidade (quem, eu?), chutou para canto: mandou a coisa para a Procuradoria da República. As esquerdoidas e o Rio resolveram criar uma comissão de inquérito para discutir o que toda a gente sabe, ou seja, o que está nas mãos da Justiça e o que foi contratado com o fundo comprador, nos termos que o Centeno e o Costa quiseram.
O pagode assiste, não percebe (valerá a pena?) o que esta gente quer, para além de distrair cada um do que lhe devia interessar.
E assim vai a terrinha.
3.9.20