SIC TRANSIT GLORIA MUNDI
Durante vários anos viveram os nossos ilustres representantes na contemplação servil e admirativa de uma senhora que por aí apareceu, cheia de dinheiro e ostentando no passaporte o nome do pai, o senhor Dos Santos, mui ilustre presidente da República de Angola.
Perante ela, ou perante os milhões que ostentava, curvaram-se governantes, diplomatas, banqueiros, pessoal maior e menor da nossa sociedade. A senhora passeava, imperial, na nossa economia, acompanhada por tutti quanti. Toda a gente sabia que, de uma forma ou de outra, a criatura gozava da presidencial, e paternal protecção. A ninguém ocorreu pôr em causa que os seus milhões tinham origem no poder totalitário do homem. Aliás, tal poder era reconhecido como legítimo pelo nosso Estado e seus agentes. Se tal poder era legítimo, legítimas eram as suas decisões, legítimos os privilégios financeiros de que a senhora gozava.
Ninguém se preocupou com eventuais irregularidades, pela simples razão que tais irregularidades, à face da lei, não existiam. A cidadã comprou, vendeu, trocou, pagou, recebeu, depositou, fez o que queria e podia, montou o seu império, sempre com o aplauso e até a gratidão das nossas “autoridades”, sempre acompanhada por ministros, secretários de Estado e dignitários de todos os tamanhos e feitios.
Nunca se pôs em causa a origem ou as voltas e reviravoltas dos milhões que ela usava. Nem o governo, nem a Procuradoria, ninguém da área da soberania se preocupou.
As coisas deram a volta lá na terra dela. O novo chefe, servindo-se exactamente das mesmas pessoas e poderes que apoiavam os feitos económicos e financeiros da dona Isabel, virou tudo de pernas para o ar: os mesmos passaram a condenar o que, na véspera, defendiam. O que era bom passou a mau, o que era dela passou a não ser, as loas passaram a motivo de perseguição judicial.
Sic transit gloria mundi.
E por cá? Os mesmos que tudo ignoravam, atentos e veneradores, passaram a ferozes perseguidores. A subserviência continua igualzinha. Os critérios é que são outros.
Você confia nisto? Será isto o tal “Estado de Direito”.
21.6.20