SINISTRA CRIATURA
Estou de acordo com a dona Gomes. Queixa-se a senhora dos “desígnios autoritários” que andam por aí. Não podia ter mais razão. Suponho que estivesse a ver-se ao espelho. Em matéria de “desígnios autoritários” não tem rival. Ninguém como ela põe em causa o sistema a que costumamos chamar estado de direito e, o que é mais grave, fá-lo ao mesmo tempo que diz estar a defender tal coisa, com toda a imaginação, toda a lata, todo o desplante. Temos nela, na sua formulação do século XXI, a expressão máxima da inspiração inquisitória que julgávamos ultrapassada, a defesa da bufaria, a condenação extra-judicial dos por ela “eleitos”, a devassa de tudo o que lhe estiver à mão, a respectiva “acusação” e a condenação sem recurso possível. É o culminar daquilo de que, com propriedade, se diz das redes sociais, onde a verdade, a mentira, o boato e as notícias, falsas ou não, são todas a mesma coisa desde que dêm para condenar os eleitos como alvo. Sem processo, sem escrúpulos provatórios, mas com respeito, sim, por uma única máxima: a que reza que os fins justificam os meios.
Em matéria de “desígnios autoritários”, André Ventura, se comparado com a dona Gomes, é um aprendiz. Torquemada, lá na tumba, aplaude.
Por outro lado, dona Gomes, filiada histórica do PS, deputada europeia do PS, declara-se “verdadeiramente independente”. Não estará de acordo com a política presidencial do Costa, mas tal não faz dela uma “independente”, ainda menos "verdadeira". Uma afirmação que ninguém será capaz de analizar sem espanto. Dona Gomes é do PS ou, melhor dizendo, balança mais para o lado dos agentes do BE no PS que para o que resta do PS de Mário Soares. Ao mesmo tempo que declara solenemente que vem para “unir e federar”, divide, e de que maneira.
Uma figura sinistra que, à semelhança do Trump, vai ter muitos votos. Para o populismo desenfreado, há-os dempre.
11.9.20