SITES E VISTOS
A matilha tem feito os habituais esforços para meter na cabeça de cada um que a ministra da justiça é a grande culpada dos trinta dias em que o site esteve com asma. A política, em Portugal, é, sempre foi, assim. O adversário é para destruir, não para criticar. Portanto, demissão, e já!
O IRRITADO foi dos que, muito antes da ministra, falou em sabotagem. A ministra queixou-se, os especialistas informáticos da PGR (haverá lá disso?) acharam que não era sabotagem. Os dois técnicos que estariam na coisa foram ilibados. São, todos os dias, incensados na “informação”: a culpa não era deles, é da ministra, ao que parece egenheira informática especialista em sabotagens. Devia ser despedida na hora, como é evidente.
Aceitemos então, por conveniência de estilo, que não houve sabotagem. Mas o site não funcionou. Então, o que houve? Resposta: engano, incompetência, ou... o quê? Segundo o politicamente correcto, nada disso: a culpa é da ministra, e acabou-se. Assim se faz justiça popular, ou se mete a tal “justiça” na cabeça das pessoas: uma das mais nobres missões da oposição e da “informação”, segundo a deontologia em voga.
Enfim, parece que o pior já passou.
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Temos agora o ingente problema dos vistos. Há muito se desconfiava (o IRRITADO desconfiava) que havia uma data de “comissões extraordinárias”, ou de “gentilezas propiciatórias”, pelo menos no caso dos chineses. As agências, aliás, tinham por hábito informar os vendedores que, no caso dos chinocas, os habituais cinco por cento eram para esquecer. Vindo o dinheirinho de Pequim, havia que contar com vastas redes de comissionistas, intermediários chineses, advogados chineses, advogados portugueses, enfim, uma cadeia que, lá para os orientes, é habitual e inatacável e que, por cá... foi andando.
Não se esperava era que a cadeia subisse tão alto, ou fosse tão vasta e tão “eficaz”.
A polícia atacou, investigou, escarafunchou, e engavetou uma data de gente. O governo, como lhe compete, não mexeu uma palha. Imaginem isto no tempo do Pinto de Sousa, meus amigos, e vejam a diferença! Alguma coisa, não pouca, mudou nesta terra, para (muito) melhor.
Mas a matilha lá anda outra vez. A culpa é do ministro, como é evidente, não é? O principal suspeito foi lá posto pelo Pinto de Sousa, mas a culpa é do ministro e, já agora, do Passos Coelho. E não falta quem branda com as “ligações” do ministro, mesmo tendo saído de uma firma que se tornou suspeita – não o era quando ele lá estava – assim que tomou posse, e tendo renomeado o nomeado do Pinto de Sousa. Para a “informação”, porém, o que conta, o que é preciso, é dar cabo do homem.
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Esta gente habituou-se – já estava habituada - a dar cavadelas a a ver sair minhocas quando o PS andava para aí a trafulhar. Agora, dá cavadelas e, como não saem minhocas, fica desesperada. Há que fabricá-las. “Sem minhocas não há informação”, deve ser, ou é, o primeiro mandamento do código do nacional jornalismo.
Vai correr muita água neste assunto dos vistos. A ver vamos no que dá ou deixa de dar.
Facto é que, na política, há coisas que muito melhoraram. O que, para a matilha, é insuportável.
14.11.14
António Borges de Carvalho