SOMOS OS MAIORES!
Com o habitual sensacionalismo que caracteriza a chamada informação, lemos por todo o lado que a ponte aérea montada pelos EUA para despejar gente do Afeganistão foi a maior de todos os tempos. Uns 140.000 transportados. Mentira. Nenhum dos habituais “polígrafos” ou similares deu por ela. É a “verdade” informativa no seu melhor.
Um amigo veio lembrar-me a ponte aérea que trouxe a Portugal entre oitocentos a um milhão de pessoas provenientes dos actuais PALOPS. Qual ponte aérea americana qual carapuça. Não sei se a nossa foi a maior de todos os tempos, sei que a americana não o foi, nem perto disso.
Naquela altura, vítimas de um de um racismo sem paralelo, os brancos foram “exportados” para Portugal via ponte ou pontes aéreas que metem o num chinelo a dos americanos.
Outras comparações são possíveis. Os americanos, ao fugir, deixaram para trás um país que, segundo toda e qualquer opinião, rapidamente se transformará num mar de guerras, de fome, de miséria e de mais todas as imagináveis desgraças. Deixaram o armamento abandonado a hordas assassinas, a administração pública deixou de existir, tudo num caos se nome.
E o que aconteceu, por exemplo, em Angola? Angola foi uma espécie de Afeganistão avant la lettre. Um regime comunista fez por lá o que fez por toda a parte. Aniquilou a economia, instaurou a ditadura do costume, estraçalhou a administração pública, os seus chefes mataram-se uns aos outros, os soviéticos e os cubanos roubaram o que estava à mão e, fatalmente, mergulharam o país numa guerra civil de trinta anos, cujas consequências, em mortos, feridos, famintos e doentes, transformaram a chamada guerra colonial numa brincadeira. O nosso exército, como o dos americanos no Afeganistão, abandonou armas e bagagens.
Dir-se-á, com razão, que a caída segunda República não soube tratar a tempo a previsível hecatombe. Uma desculpa bem pobre para o que, em termos humanos, fez a terceira.
Mutatis mutandis, estamos perante fenómenos de natureza sememelhante. Somos os maiores, como diz o Senhor Presidente.
7.9.21