SOMOS OS MAIORES!
Não há dúvida de que somos, como se diz?, bipolares, ou coisa que o valha. Tão depressa estamos em depressões do tipo fadista, a coçar as feridas e a bater com a mão no peito, como achamos o fadismo (património da humanidade!) uma coisa excepcional, do outro mundo, superior ao bernico! Não há emenda para isto.
O nosso inefável ministro do ambiente, seguido por uma multidão de crentes, pavoneia-se com o facto (diz ele) de sermos campeões do carbono, isto é, da falta de emissões de CO2. Pois é. É claro que as mesmas distintas cabeças não acrescentam que, por essas e por outras, pagamos a energia mais cara do que os nossos admiradores, parceiros da UE e da ONU. Esquecem-se de dizer quanto custam os moinhos de vento, as fotovoltaicas e outras preciosidades tecnológicas que nos põem nas mais altas esferas da “democracia ambiental" e da defesa de um planeta que se está, como é óbvio, nas tintas para estas artes.
Há dias, o PM japonês, um tal Abe, fez um discurso declarando que, se o Japão quer incentivar a indústria e ajudar as famílias, terá que entrar num programa nuclear de largo impacte. Um japonês! É que, ao contrário da caríssima bempensância internacional, o homem percebeu que o desastre de Fucoxima não se ficou a dever ao nuclear mas a um act of God de catastróficas dimensões. A bempensância moderna é igual à do século XVIII, que garantia que o terramoto de Lisboa tinha sido causado pelos pecados da cidade. Hossana, senhor Abe!
Facto é que, na cabeça do ministro, do Costa e de tantos outros amantes da Terra, somos os maiores. Pagamos, mas que importa, se somos os maiores! À indústria, à pouca que há, os preços da energia causam as maiores dificuldades, o investimento hesita pelo mesmo motivo, mas que importância tem, se somos os maiores. Do outro lado, somos os mais infelizes, os que não aguentam com os preços, os que pagam com língua de palmo as fantasias do ministro, os negócios do 44 e a insaciabilidade do Mexia e quejandos.
A inflação é negativa, o que faz vibrar as donas de casa e tremer os economistas. Negativa? Sim, mas sem contar com a “eficiência energética”, a que se deveria mais propriamente chamar violência energética.
Nesta senda entrou agora a CML, covil de costas, rosetas e fernandes. Raciocinando com brilhantismo sobre a cidade, concluiram que os menos de quinhentos mil indígenas que por cá vegetam têm a mesma “pègada” que os onze milhões de Londres. É preciso seguir os bons exemplos. Por isso, ó cidadãos, se quiserem ir à Baixa, tratem de comprar carros novos. Deve tratar-se de mais um nobre impulso para aumentar as importações. Somos os maiores, como Londres ou Tóquio. Esses tipos de Paris são uns idiotas, com a lata e a falta de respeito pelo planeta que os faz andar de carro nos Campos Elísios. A bestialidade camarária não percebe que a falta de dinheiro é mais que suficiente para pôr a malta nos autocarros, no metro, nas motoretas, nas bicicletas, ou a cavalo nos sapatos.
Temos centenas de piscinas públicas fechadas por falta de utentes, estádios às moscas, etc.. Uma pena. Mas o poder autárquico é o maior, o mais progressista, o mais amado!
Estamos a pagar uma rede de autoestradas do lá-vai-um, mas temos também a maior densidade delas de toda a Europa. Somos os maiores!
E por aí fora, um nunca acabar de fantásticas realizações e de fados da desgraçadinha.
O pior é que quem tem razão são os fadistas.
16.1.15
António Borges de Carvalho