TAP
Não é preciso ser um especialista em aviação para perceber que as chamadas “companhias de bandeira” deixaram de fazer sentido. Têm os dias contados. Boa ou má (boa e má), a globalização deu cabo do conceito.
Será a procura o que determinará a viabilidade das rotas e das companhias de transporte aéreo. Não é por acaso que a TAP foi sempre deficitária, só tendo tido bons resultados uma vez, a confirmar a regra. Não parece, por isso, razoável a insistência na tal companhia de bandeira. Se as rotas com origem ou destino em Portugal forem rentáveis, não haverá quem não queira explorá-las. É uma questão de marketing. Insistir na diáspora ou nos PALOP como justificação já não colhe. Ainda menos colhe querer continuar a sustentar com fundos públicos uma empresa que não consegue nem jamais conseguiu sair do vermelho. Ou será que a geringonça tem alguma mèzinha mágica para resolver o problema?
Para a extrema esquerda tal mèzinha existe, e é a mesma de sempre: a nacionalização. Os camaradas do PS têm outra solução, tão inteligente como aquela: acham que, passando a gestão a ser pública, tudo se resolve: o governo mete lá uns amigos, e acabou-se. Tanto uma como outra destas soluções entra nos domínios do ridículo. Ambas contribuem, com irrefutáveis provas dadas, para os imensos problemas que promovem. O Estado ultrapassa os seus limites, passa a regulador de si próprio, desautoriza-se, falha. E, numa como noutra das soluções os resultados são afins, e inevitáveis: chamam-se ruína.
É discutível, mas tem lógica, que os Estados proporcionem e suportem condições especiais para voos entre os seu territórios mais afastados, ou periféricos, cujas circunstâncias geográficas e a falta de procura tornam tais voos deficitários, portanto não atractivos para a exploração comercial. Trata-se de uma excepção de mero carácter político, um custo para o Estado. É por aí que o Estado devia ficar.
No caso da TAP, seja qual for a “solução” encontrada, estamos estre espada e a parede, ou seja entre um ministro boçal e ignorante e um amigo do chefe. Venha o diabo e escolha. A espada não se entende com a parede, os privados estão fartos das ordinarices de um e do poder informal do outro, o chefe não tem qualquer ideia a este respeito – limita-se, como sempre, a ver de que lado está o vento. Nada de bom se pode esperar. Certo certo é que vamos pagar os buracos que o covide abriu e o atraso nos resultados que a monumental expansão da companhia motivou.
Os bancos foram ajudados pelo Estado. Tais ajudas (aos bancos que não foram vítimas de gestão danosa) estão pagas, e com bons resultados em juros. As ajudas deram lucro ao Estado! Exceptua-se o maior beneficiário de tais ajudas, a Caixa Geral de Depósitos, que é pública, não paga, o que é difícil de perceber. No entanto, a explicação é simples: vivemos governados por socialistas, sejam moderados, radicais ou estalinistas.
Nada pareceria impedir que o mesmo se passasse com a TAP. Com uma reestruturação radical, mas bem pensada e executada, e com uma gestão de grande categoria e experiência do ramo, acredito que seria possível, em meia dúzia de anos, levá-la a uma situação aceitável, que permitisse a sua venda em condições igualmente aceitáveis. O que não se compagina com ideias estatistas, com socialismos bacocos, com gestões públicas, com “ideais” de companhias de bandeira ou com idiotices pós-coloniais.
2.7.20