TERESA RODRIGUES CADETE
Titula-se este post com o nome de uma senhora na esperança que tal senhora o leia.
A dita, alta individualidade académica, publica um importante artigo no “Público” de ontem, defendendo a profissão de “tradutor e tradutora”. Registe-se, com a devida irritação, a correcção política da inclusão dos dois géneros: como se, dizer “tradutor”, em bom português, não incluisse as tradutoras!
Não me compete apoiar ou contradizer o alto arrazoado da articulista, ainda que, na generalidade, deva dizer que concordo com as suas opiniões. No entanto, o objectivo do artigo não é, como se poderia julgar, estabelecer uma espécie de teoria geral da tradução, mas fazer a defesa corporativa dos respectivos profissionais.
Diz a senhora, por exemplo: As tradutoras e os tradutores devem ser respeitados e consultados em todas as questões relativas ao seuntrabalho.
Para um frequentador de livrarias, a esmagadora maioria dos chamados tradutores portugueses não conhece, ou conhece mal, tanto a língua portuguesa como a língua que traduz. Não raro, ao folhear uma tradução, desistimos de comprar o livro. Não raro somos levados, por distracção, a adquirir livros que deitamos fora ao chegar à página dez, porque a tradução é de tal maneira ordinária que, ou ofende quem sabe um bocadinho de português, ou é simplesmente ininteligível.
Se a distinta académica se debruçasse sobre os aborrecimentos, as fúrias, as desestabilizações intelectuais que a maioria dos seus colegas causam a quem tem a infelicidade de tentar lê-los, e apelasse a exigências de acesso à profissão que poupassem os autores ao assassíno literário e os leitores a crises de nervos, compreendê-la-ia. Mas teorizar, mesmo que cheia de razão, com o propósito quase exclusivo de elogiar a corporação, francamente!
21.2.16