TRANSCRIÇÃO
Tenho boas notícias e más notícias. Vou começar pelas boas:
O vírus a que deram o nome de SARS-CoV-2 está no fim do seu percurso natural. Todos os números indicam um forte declínio na prevalência da doença que ele provoca, a chamada COVID-19. As crises provocadas por essa doença foram relativamente graves, mas só em análises geograficamente localizadas. Numa perspectiva mais global não representaram nada fora do normal, seguiram o padrão de inúmeros outros vírus respiratórios. As projecções catastróficas iniciais não se verificaram. Neste cantinho Ibérico a que chamamos Portugal nem se pode dizer que tenha havido uma crise de saúde ligada a esta doença específica, já que os números foram bastante abaixo dos de outros vírus considerados "normais". A percepção do perigo de retomar a vida normal é uma ilusão, a probabilidade de apanhar um "bicho" perigoso andando hoje sem máscara no supermercado é inferior à de Dezembro/Janeiro, de qualquer ano típico. O risco para as crianças e jovens revelou-se nulo, em contraste com a outra grande família de vírus respiratórios (Influenza/gripe) que é mais perigosa para esses grupos. Não vai ser preciso nenhum "novo normal", podemos regressar às nossas vidas pré-covid.
E agora as más: O efeito da onda global de pânico associada a este vírus foi muito acima de qualquer expectativa. As consequências nefastas dessa onda são mais difíceis de contabilizar, mas já há fortes indicadores da sua enorme gravidade. As mais óbvias são de natureza económica, sectores inteiros dizimados de um dia para o outro. Poder-se-á dizer que a economia recupera, mais tarde ou mais cedo. O problema é que as consequências económicas têm na sua origem uma causa mais profunda e séria: o trauma psicológico das populações. Como colectivo revelámos uma fragilidade enorme. As repercussões das nossas atitudes vão atingir negativamente populações para quem uma pequena diminuição da qualidade de vida representa a diferença entre ter ou não ter comida na mesa, entre a saúde e a doença, entre a vida e a morte.
Como optimista que sou, quero acreditar que ainda vamos a tempo de mitigar os efeitos negativos desta crise, e até aprender com ela para evitar erros futuros. Mas precisamos urgentemente de parar de aceitar que se gastem recursos na construção da ridícula "nova normalidade". Temos que assumir o erro e seguir em frente. Não podemos deixar que as gerações seguintes cresçam a pensar que isto é normal. Não há nada de normal no distanciamento social, é contra-natura e contraproducente. As doenças fazem parte da natureza e enfrentam-se, combatem-se, a fuga nunca é a solução.
Peço desculpa por terminar num tom paternalista, mas é o que sinto: ACORDEM!