TRETAS ELEITORAIS
Algumas observações “analítico-trêticas” sobre as eleições:
- Primeira treta: a abstenção. Ninguém sabe qual foi. Tudo o que se diga é abusivo e aldrabão. Os cadernos eleitorais incluem criancinhas, defuntos, emigrantes (num só debate, um sabichão disse que estes eram 300.000, outro 200.000 e um terceiro 120.00. Poderão ser 2 ou 3, ou 1.000.024, por exemplo): nove milhões de eleitores em dez milhões de habitantes. Lindos cadernos!
- Segunda treta: o PS está muito contente porque foi o 3º partido socialista mais votado na Europa. Talvez tenha sido. Que fique contente com isso, percebe-se. Mas também se percebe porque é que o PS Europeu continua minoritário. E também se percebe que, a votar assim, continuamos na cauda do pelotão em matéria de discernimento político.
- Terceira treta: o Bexigoso, na opinião do Oco, fez uma campanha de grande nível democrático e cheia de boa educação. Ficamos a saber o que, na cabeça do Oco, é a democracia e a boa educação. Como o IRRITADO tem dito, o cómico tem a cabeça nos pés. O bexigoso não podia ter sido mais ordinário e, em matéria de pensamento, tem o mesmo do Oco: nenhum.
- Quarta treta (a maior de todas): a grande vitória do PS. Passados mais de dois anos de inevitável massacre fiscal e de não menos inevitável desemprego, de uma luta sem tréguas da “informação” que temos, de milhares de manifestações e outras intervenções do Carlos e do Jerónimo, dos gritinhos da meia-leca do BE, da proliferação de associções mais ou menos assassinas, do esmerado cultivo de ódios, tudo a matraquear no governo (a coragem política do PM acaba por ficar à altura da bravura guerreira de Nun’Álvares quando responde com calma e boa educação às cavalidades alheias), de investidas de “intelectuais”, de traições de “altas figuras” do PSD a destilar sem decoro as suas dores de cotovelo, de generalizadas negações do óbvio... o PS teve mais 4% de votos e não conseguiu ter à porta do Altis mais do que as 50 pessoas que de lá saíam. Se isto é uma grande vitória, vou ali e já venho. Se isto é uma grande derrota da coligação, meus amigos, então a Lua é cúbica! Todas, mas todas, as proclamadas ambições do PS foram à viola.
- Quinta treta: o discurso do Oco. Repetição, de trás para diante e de diante para trás, das inanidades que anda há dois anos a divulgar: nem uma só ideia, nem um caminho, nada. Puro, enjoativo e recorrente blabla.
- Sexta treta: o BE escanchado. Não é fácil, reconheçamos, ter um pé no comunismo e outro na democracia. A coisa racha pelo púbis. No entanto, no uso da sua esclarecida verve, a histérica acha que foi uma vitória! O velho não sei o que disse, mas é de imaginar que não tenha ido mais longe que a colega. Perdão, camarada.
- Sétima treta: a eleição do Màrinho. O socrapirismo volta com novo representante. Prendado com os anos e anos de palanque nas televisões que o tornaram conhecido à pala de bocas tonitruantes, este populista de trazer por casa cavalgou a “notoriedade” e convenceu uma data de ignaros. Parabéns. O malandrim comeu votos aos partidos que foi um vê se te avias. Teve a sua graça, em termos de humor negro. Agora, algumas inteligências dizem que roubou votos ao PS. Pois, e ao PSD/CDS também. A não esqucer.
- Sétima treta: o Livre. Livrámo-nos do Livre, o que não é nada mau. O deputado pendura deixou de ter cabide: o que tinha roubado ao Louça foi à vida. Aleluia.
- Oitava treta. O impasse. O Oco resolveu declarar que estamos num “impasse político”. Só se for no Largo do Rato. Aliás, o camarada Costa já se encarregou de dizer como é: o PS tem que leflectir e tirar as consequências internas da pífia vitória que teve. A almejada “mudança” morreu antes de nascer: um aborto natural. Mudança, só se for outra: a do Oco.
- Nona treta. A nossa Marine Le Pen, isto é, o Jerónimo, subiu, não tanto como como diz ter subido ou como subiu a sua mais sofisticada versão francesa.
- Décima treta. A nossa Marine, bem como o Oco, clamam por eleições antecipadas. esquecem-se de que não dispõem dos bons ofícios do Sampaio para os lever ao colo ao poder. Ainda bem. É tempo de fazer voltar ao regime alguma normalidade, ou seja, que o golpe de estado constitucional tenha deixado de estar na moda.
E por hoje é tudo. Outras “análises” se seguirão, se para tal o IRRITADO tiver pachorra. Tretas não faltam, nem vão faltar.
26.5.14
António Borges de Carvalho