TRIPAS À MODA DE LISBOA
É fácil imaginar o que seria se um alfacinha tivesse o desplante de se candidatar à Câmara do Porto. O invicto orgulho ofendido, o provincial pundonor ameaçado, as invejinas parolas à solta em estertores de indignação, mais um crime do centralismo, a tirania do Terreiro do Paço, o garrote do poder central, rua com esse mouro que ousa querer penetrar as invencíveis muralhas da “capital do Norte”!
Pois. Mas, em Lisboa, o candidato que é presidente sem ter sido eleito, coisa habitual lá no partido dele, quer - há quem diga que tem hipóteses - continuar, desta vez com legitimidade eleitoral. E é do Porto! Ninguém se ofende com isso, o que, convenhamos, marca uma certa diferença, não a favor do candidato mas da mentalidade alfacinha.
Não me passa pela cabeça votar no fulano. Mas não é por ser do Porto em vez de o ser das avenidas novas ou equivalente. Fosse ele coisa boa... mas não é. Digo-o em nome dos lesados pelas suas políticas absurdas e propagandísticas, em nome dos milhares de lisboetas que, em nome da “mobilidade”, passam horas engarrafados em sítios onde, há um ano, se circulava com relativa facilidade. Digo-o em nome dos sacrificados da Carris e do metro (empresas públicas, nossas, nossa um gaita!) que cada vez funcionam pior, que cada vez são mais lentas, que cada vez nos deixam mais tempo à espera, menos oferta, menos veículos, menos educação. Digo-o em nome dos bairros que carecem de atenção e de quem lá vive, enquanto o dinheiro se gasta em obras faraónicas a favor de meia dúzia de ciclistas em vez de se aplicar onde é preciso, em vez de se limpar os passeios, negros até os novos já começam a estar, para não falar das armadilhas e na porcaria dos antigos, ou nas maluquices, meu Deus!, que se fizeram no chamado eixo central e arredores...
Jamais votaria no melífluo e delicodoce boquinhas, que se apoderou da cidade para prejudicar o nosso dia a dia em favor da sua geringoncial propaganda.
Não! Este não leva o meu voto, seja ele do Porto, da Buraca, da Amareleja, de Campolide, ou do raio que o parta!
25.6.17