UM APELO ANGUSTIADO
Exmº Senhor António Costa
Venho, humildemente, apelar à sua indesmentível coerência, ao seu acendrado respeito pela moral republicana, ao seu profundo sentido de Estado, à sua conhecida clarividência.
Quando uns funcionários fizeram asneira da grossa e o respectivo ministro se demitiu, Vossa Excelência, no uso das excelsas qualidades que acima refiro, veio a público elogiar, e muito bem, a atitude do tal ministro. Depois, e permita-me que me surpreenda, quando um seu funcionário da CML foi descoberto nas mesmas manigâncias, Vossa Excelência pareceu não deu por isso, certamente dados os seus ingentes afazeres.
Agora, que é o seu chefe - aquele a quem, lealmente, seguiu, apoiou, secundou, etc. - a ser apanhado, pensa o povo que deveria ser consequente com as suas mui esclarecidas opiniões e palavras. Como? Demitindo-se, é claro. Não quer Vossa Excelência ser acusado de, desta vez, faltar à coerência, esquecer a moral republicana, obnubilar o seu sentido de Estado, obscurecer a clarividência que todos lhe reconhecemos, pois não?
De que é que está à espera?
Se tiver alguma dúvida, talvez, para o esclarecer, o possa convidar para um almocinho no Aviz, onde se come bem e não é caro, ainda que os jornais digam que, às vezes, a frequência não é das melhores.
Com os melhores cumprimentos deste seu atento admirador
IRRITADO