UM BECO SEM SAÍDA?
Aconteceu o que há muito se esperava. O BCE vai despejar por aí uma chuva de notas. Resta saber se serve para alguma coisa, num continente que está economicamente anquilosado, que não sabe para que lado se virar, que já pouco produz de novo ou de único.
O problema não é falta de dinheiro, é falta de produção de bens que se imponham globalmente. O Ocidente em geral e a Europa em particular, ao escancarar fronteiras, não previram ser tão depressa apanhados na sua própria ratoeira. Quer isto dizer que os produtos que, pela sua qualidade, tecnologia, inovação e preço, eram “exclusivos” deste lado do mundo, deixaram de o ser. Há outros a produzi-los mais barato e mais depressa. A fatia de “exclusivo” que resta é cada dia mais fininha. E, como as fronteiras estão abertas, o yuan e outros, por estratégia política, não se valorizam, cada vez há menos para com eles concorrer.
Daqui que só uma série rápida de saltos tecnológicos – será possível? – pudesse recuperar os passos já perdidos. Onde está, para tal, a iniciativa? Quem a vê?
Por tudo isto, é de duvidar que o maná do BCE venha a servir para alguma coisa que não seja recuperar a inflação, aumentar o consumo e meter na cabeça das pessoas que vem aí crédito mais fácil, com a concomitente tentação de, à falta de investimento criador, gastar a manancial fatia tão facilmente como se a obteve.
Do lado de lá do Atlântico, as coisas serão menos feias. Liberdade cambial, investimentos energéticos propriamente ditos (nuclear e xisto), mobilidade laboral, por exemplo, nada têm a ver com uma Europa que, mergulhada em preocupações sobre inexistentes ameaças “planetárias” e tolhida por enganosos conceitos de welfare, se compraz em não baixar os custos de produção. Por isso que os EUA consigam algum crescimento e a Europa não.
Faltam-nos políticos que nos digam a verdade em vez de nos entreter com patacoadas, tipo regionalizações e “direitos fracturantes”.
Enfim, pode ser que um dia... Pode ser, mas não é provável.
22.1.15
António Borges de Carvalho