UM FARTOTE
Em mais uma das suas habituais tiradas, o chamado primeiro-ministro veio garantir à plebe que não é altura de falar em regionalização. Nem pensar. Só no seu “devido tempo”. A prová-lo, a criatura espraiou-se largamente sobre o assunto, sempre salvaguardando que não se deve falar sobre o assunto. Disse que em 2021 haverá eleições directas para as áreas metropolitanas, mas que o assunto, para já, está “fora de tempo”. Nem uma palavra, como se nota. Afirmou que já sabe, ou já determinou, quais serão ou não serão as regiões, mas que nada de tocar no assunto. Falar em regiões só depois das eleições deste ano. O grande fala-barato gasta meia hora a falar de um assunto sobre o qual não quer que se fale. Bonito, não é?
E porquê estes cuidados? Talvez porque o homem e o seu sócio regionalizador, um certo Rio, querem continuar a trabalhar as coisas por trás da cortina com outros regionalistas, “independentes” como o Cravinho, cuja missão será justificar tecnicamente a tramoia.
Atinge-se o máximo quando o camarada informa que, se se começar a falar muito no assunto, tal conduzirá “inevitavelmente ao insucesso”. Como diria António Oliveira Salazar, o “povo não está preparado”. Em versão Costa, ele sabe que se houvesse agora outro referendo, a regionalização levava mais uma vez com os pés. Por isso há que “preparar o povo”, isto é, ir-lhe lavando o cérebro durante uns tempos.
Por outras palavras, não quer que lhe suceda como ao Cameron, referendo sim, mas com resultado garantido.
Mais uns aninhos, e teremos o Rio presidente da Região Norte, o sonho da vida dele. Então, as coisas funcionarão doutra maneira. Por exemplo, auanto o presidente do município de Lamego tiver um problema com o da Régua, não vai falar com o colega lá do sítio. Que disparate. Vai queixar-se à Capital da da sua Região. O presidente desta aprecia o assunto, consulta o seu executivo, manda o caso para a respectiva Assembleia regional e, depois de debatido, mandará o resultado das deliberações ao colega da Região Norte, que comunicará ao seu governo regional, que consultará o seu parlamento. A questão será agendada, discutida, votada e, a seu tempo, o município de Lamego saberá a “sentença”. Prático, barato, rápido e eficaz, como é de calcular.
Na sombra, sem que se fale disso fora do segredo dos deuses, os “técnicos indepenentes”, contratados pelo Costa com a missão de chegar conclusões obrigatórias pré-estabelecidas, darão o seu irrefutável contributo. Sem contraditório. Papa feita, o povo será devidamente engromilado. Nessa altura, o referendo será canja e haverá umas largas centenas de artistas com novas competências e novos empregos.
Um Fartote.
14.1.19