UM FARTOTE
Os esquemáticos líderes das diversas maltas que dizem governar-nos estão loucos de alegria. É que parece que arranjaram um tema sumarento para se vingar dos tempos em que estiveram longe do poder.
Vistos os jornais, o caso Banif custava 700 milhões. Nas doutas palavras do chamado Primeiro Ministro, passou a bastante mais de 2000. Ele lá sabe. Acresce que, com ar solene, declarou que a “solução” que arranjou consiste em que o dinheiro que houve quem confiasse ao Banif está garantido pelo Estado. Por outras palavras, que o buraco vai ser pago por quem não tem nada a ver com o assunto. Tanto criticaram a resolução do BES para agora vir a fazer pior.
Dizem que o arrastar do assunto foi justificado pela necessidade de obter uma saída limpa da tutela da troica. Facto é que tal saída se conseguiu. Sendo assim, restará saber o que era preferível: sair do domínio da troica e ficar com o buraco do Banif, ou deixar a troica andar por cá mais uns anos. Cada um que opine.
Na minha óptica, diz uma sã regra do capitalismo que, ao confiar o dinheiro a um banco, cada um sabe ou devia saber que pode vir a ficar sem ele se as coisas correrem mal. Há uma almofada, representada por uma garantia do Estado, mas só até um certo montante. A partir daí, cada um que se desenrasque.
Lembro-me de um meu conhecido, cidadão britânico, reformado, que foi apanhado na tempestade que assolou o Lloyds vão passados uns quinze anos. O homem tinha a sua casa no Reino Unido, mas vivia a maior parte do ano, confortávelmente, numa moradia de que era dono no Sul de Espanha. As pensões, dele e da mulher, e mais não sei quê, foram à viola. O homem vendeu a casinha espanhola e foi viver num modesto apartamento nos subúrbios de uma cidade qualquer do Norte de Inglaterra. Injustiça? Com certeza. Trafulhice? Dizem que não. O que se sabe é que o grupo financeiro foi reformado, reestruturado, e só há pouco voltou a deitar a cabecinha de fora. Pelo caminho ficaram dezenas de milhares de trabalhadores, as poupanças de centenas de milhares, talvez milhões de cidadãos. Foi o diabo. Terríveis são as consequências do capitalismo, quando as coisas correm mal. Resta a consolação de saber que as do socialismo são piores. Facto é que, no Reino Unido, quem sofreu com os problemas do Lloyds foi quem estava ligado à organização, não passando pela cabeça de ninguém que pagassem os que não tinham nada a ver com o assunto.
Por cá, não é bem assim, ou nada assim. O PM, de um dia para o outro, declara que o problema é três vezes pior do que era na véspera. E acrescenta que quem vai pagar são suspeitos do costume: os 16% dos portugueses que pagam impostos.
O mais importante, o que alegra a malta do poder, é saber que vai subir o pano para as exibições das actrizes em voga. Nada melhor do que uma comissão parlamentar especializada para muito parlapatar, baralhar, tornar a dar, vir no jornal, e nada resolver.
Um fartote.
Bom Natal.
21.12.15