UM HERÓI
Fiquei muito comovido com os ditirâmbicos elogios prestados pelas autoridades da III República ao ínclito, ilustre, egrégio senhor Pinto, célebre gatuno informático a contas com a Justiça(?). Não só o dito espião informático “colabora activamente” com tais autoridades, como está, garantida e definitivamente “recuperado” para o bem da sociedade. Enfim, trata-se de um fulano do melhor que o bonito mundo dos ciber-assaltantes tem gerado.
Não se sabe, ou não se diz, ou não consta como ou por que carga de água o indivíduo vivia e actuava na Hungria, país altamente democrático como toda a gente sabe, se tinha por lá algum amigo como o Sócrates em Paris, se nalgum emprego trabalhava, ou se tinha alguma “missão”, a mando e por conta de quem.
O que se sabe é que, para se safar, “mudou radicalmente”, “prestou uma colaboração efectiva e relevante, até do ponto de vista da informação” e, inclusivamente, como fonte credível, “já colaborou com as autoridades por causa de outros processos”. A PJ “’localizou’ a mudança de comportamento no momento da decisão instrutória” que o levou a julgamento, o que muito diz dos exigentes critérios éticos do exemplar cidadão. O chefe da PJ “acredita na sua reabilitação e em que ele não reincidirá”. Também deve acreditar no Pai Natal, mas isso é lá com ele. Desnecessário será descrever mais elogios ou referir as declarações da dona Gomes, madrinha do acusado.
Tudo isto, dir-se-á, não passa de malquerença do IRRITADO, apostado que estará na defesa dos vigaristas e aldrabões que por aí à solta andam. É de crer que estes não mereçam confiança das autoridades. O Pinto merece.
Esclareço: o que irrita o IRRITADO é ver que, oficialmente, os fins passaram a justificar os meios e que os produtos do roubo servem, não para condenar o ladrão, mas para os transaccionar com ele, incensando-o como alto servidor da polícia, da política e da justiça.
13.5.21