UMA EXCEPÇÃO MALUCA
Tantas emergências, tantas limitações, tanta disciplina, os prevaricadores na gaiola, os polícias a vigiar, vilas fechadas, cercos, tudo minha gente a cumprir as ordens do Costa e do senhor de Belém, cada vez mais ordens e menos direitos, tudo o que lhes vier à cabeça. Aguentemos, ai aguentemos, seja em desconto dos nossos pecados, seja pela nossa rica saudinha, seja para glória eterna dos dois manda-chuva acima citados.
Uma coisa me incomoda no meio da descomunal pessegada em que estamos metidos. É que, com tantas cautelas, continuamos a comprar os jornais. Que mãos lhes mexeram antes de chegar às nossas? As dos fulanos que fabricaram o papel, dos compositores (não sei se ainda há disso), dos tipógrafos, dos distribuidores, das meninas das tabacarias e de mais não sei quantos seres humanos cheios de espirros e de covides.
Que explicação haverá para que os mandões se tenham esquecido disto? As frutas, os legumes e outras vitualhas, dir-se-á, estão na mesma situação. Mas as alfaces podem ser desinfectadas, as águas, os peixes, o pé de porco, podem ser desinfectados ou fervidos. Os jornais não: lavados com produtos desfazem-se, fervidos também. Podemos lê-los de luvas e máscara para nosso descanso? Qual descanso? Resta dizer que se trata de proteger a chamada informação. Mas há na net, na TV, na rádio, nos telemóveis, informação e desinformação com fartura, o difícil é escolher ou escapar a tanta quantidade.
Percebe-se que se tente salvar os meios em papel. O IRRITADO tem o vício dos jornais, não quer que eles acabem, mas deixou de os comprar. A salvação da informação em papel não pode, não deve, ser feita à custa da segurança sanitária de cada um. E, se toda a economia está a sofrer com a crise (e muito mais sofrerá no futuro) por que carga de água ficam de fora os jornais?
5.4.20