UMA HIPÓTESE DIGNA DE ATENÇÃO
Li não sei onde a mais engraçada, a mais surpreendente insinuação sobre a monumental bronca da SIC (as gravações da operação Marquês). Diz alguém que a terrível e criminosa fuga ao segredo de justiça que nos entrou em casa horas e horas a fio foi iniciativa... dos advogados do chamado Sócrates, ou dele mesmo.
Informação, repito, engraçada e surpreendente, mas não destituída de lógica. A mensagem que passou, ou que queriam que passasse, é simples: a acusação não tem provas contra o réu, a não ser provas circunstanciais, indícios comprometedores mas sem suporte material, isto é, existe o dois mais dois, mas falta o igual a quatro.
É claro que, simultaneamente, o tal Sócrates ficou classificado aos olhos de todos como aquilo que é, um safardana com a mania das grandezas, um tipo que não quer trabalhar, um vaidoso compulsivo, um pendura contumaz, uma desgraça total em termos de dignidade humana e de direito ao respeito seja de quem for. Mas isso não interessa à defesa, já que, a tal respeito, só um parvo terá dúvidas. O que interessa é que fique na cabecinha de cada um que, em relação às mais graves acusações, não há provas incontrovertíveis. Daí a inteligência, ou a oportunidade, de divulgar as gravações. Além disso, dá à criatura mais oportunidades para aparecer nas notícias, ou para não desaparecer delas. Um dia depois do espectáculo lá foi ele anunciar, em conferência de imprensa, que se vai constituir assistente nos processos que forem abertos contra a SIC, por violação do segredo de justiça. Coitado, ofendidíssimo...
Note-se que se apresentou em tal conferência sem a companhia dos advogados. Note-se também que anda por aí uma notícia a dizer que terá cassado a procração, pelo menos a um deles. Será porque o homem não queria que as gravações viessem cá para fora – nesse caso, a iniciativa teria sido do réu – ou porque este não queria que tal acontecesse – nesse caso a coisa teria partido do advogado. Se eu tivesse que escolher, escolhia a primeira hipótese.
Enfim, tudo isto são conjecturas ou, como diria o tal Sócrates, provas circunstanciais...
21.4.18