UMA PERDA IRREPARÁVEL
Não sei se o governo deveria, ou não, decretar uns três dias de luto nacional, com bandeiras a meia haste e cortejos de carpideiras, em sinal de pesar pelo choque nacional que representa a ida para o Brasil desse grande luminar da nossa cultura, desse brilhante farol que vinha fustigando com seu brilho os olhos da nossa ignorância e da nossa insensibilidade: Fernando Tordo.
A simples dúvida do IRRITADO a este respeito é bem o espelho de tal ignorância e de tal insensibilidade.
Qual ave do mesmo nome, assustada pela adveniente época da caça, esvoaçou, sereno e “sem mágoa”, para longes terras. Verdeiro assecla dessoutro português de gema, Dom João, acossado por Junot.
Deu-nos o nosso herói a subida honra de nos avisar com tempo, a fim de nos aliviar do tremendo choque que a sua partida não deixaria de causar, tal a perda de valor pátrio que representa. Afinal, o que é, por exemplo, a morte de Eusébio, se comparada com a perda “irrevogável” deste poderoso génio? Um fait divers, por certo. Pelo menos, deve ser assim que pensa o nóvel imigrante, dada a publicidade com que rodeou a partida da sua tão insigne personalidade.
Porquê, perguntará, aflita, a grei?
Porque, esclarece o heróico senhor, ninguém lhe dá trabalho! Já viram isto? Um país que regurgita música, ou “música”, de todos os tamanhos e feitios, não tem um lugarzinho para o sábio compositor que, com toda a justiça, diz ser? Ó ingratidão! Ó vil tristeza! É “insultuoso”, diz ele. A culpa, segundo o próprio é, evidentemente, do governo.
Di-lo com toda a razão. Um país que escolhe um governo como este, não merece os altíssimos contributos de Fernando Tordo para a sua cultura.
Nem luto nacional nem nada! Antes a dona Gilma que, pelo menos, é socialista.
19.2.14
António Borges de Carvalho