UMA TRISTEZA
Durante longos e tristes anos, Costa dedicou-se à nobre tarefa pôr as culpas dos seus erros às costas do PSD. Nada de mau tinha outra origem. E, coerente, o homem dizia que jamais dialogaria com tal gente, jamais aceitaria qualquer proposta ou ideia dele proveniente. Durante anos, o PSD foi excomungado, maltratado, até nos tristíssimos tempos em que foi chefiado por um ajudante do PS chamado Rio, uma espécie de namorado, imagem clara do adágio “quanto mais me bates mais eu gosto de ti”. Costa até este punha de lado, com um esgar trocista.
Eis senão quando, debatendo-se com a crise de inteligência, de coerência e de lealdade que grassa nas suas hostes, Costa deu em recorrer aos bons ofícios do PSD para resolver a monumental trapalhada do aeroporto de Lisboa. Tudo, é claro, a bem do “interesse público”, do “compromisso democrático” e, evidentemente, de (mais) uma desresponsabilização própria, de algo que comprometesse o novo PSD e o calasse sobre o assunto.
Estranhamente, Montenegro aceitou dialogar, esquecendo que, para haver um gentlemen’s agreement, é preciso que haja pelo menos dois gentlemen. Manifestamente, não era o caso.
Da “cimeira”, o que resultou? O costume. Duas “comissões” que, durante um ano(!), vão fazer mais uns “estudos”, a juntar à floresta de estudos que já andam por aí e, para aumentar a confusão, acrescentando a brilhante ideia do aeroporto de Santarém, a oitenta quilómetros de Lisboa, coisa que cheira que tresanda a negócio de terrenos.
No fundo, nada foi decidido a não ser o prolongamento da trapalhada. O PS arranjou um bode espiatório para o que correr mal, a malta vai ficar mais uns anos a ouvir umas bocas e sem novo aeroporto. Daqui a um ano, as “comissões” pedem aumento do prazo, isto se já tiverem começado os trabalhos. O novo aeroporto de Lisboa é como o Brasil: é o aeroporto do futuro. E o futuro, esse, como se sabe, continuará a não existir.
Uma nota de humor: as televisões transmitiram a reunião sem som. O que dava para ver, e gozar, eram as trombas do PNSantos: fartei-me de rir. Valeu a pena.
24.9.22