UMA TRISTEZA
Como toda a gente sabe – os que gostam e os que não gostam – Costa é um espertalhão.
Os que gostam, acrescentam a esta unânime opinião uma série de qualidades, ou do que acham ser qualidades. Os que não gostam (nos quais, com muita honra, o IRRITADO se inclui), acrescentam o que está à vista: videirice, tramplonice, oportunismo, duvidosíssima honestidade, manipulação, propaganda enganosa, antipatia, alarvidade, troça rasteira, etc.
É com este espertalhão que Rio resolveu fazer as pazes. Visitinhas e abraços, protestos da mais alta consideração, vontade de colabrar (as lojas de cuecas, quando precisam de empregados, pedem “colaboradores”), tudo em nome da Pátria, do povo, da democracia, blablabla, que a banha da cobra está barata.
O camarada Costa, entre palmadinhas, afectos - e mal disfarçadas gargalhadas – já o pôs na ordem: diálogos, sim, desde que o PC e o BE não se oponham. Fica tudo dito, não é preciso mais: diálogo nenhum, só, talvez, fogo de vista. Rio não percebeu, mesmo bem explicadinho pelo Costa, que não há diálogo nenhum a não ser que ele, Rio, se ponha de acordo como PC e o BE (leia-se debaixo do PC e do BE) e, portanto, contra todos nós.
Nenhum rasgo, nenhuma proposta politicamente estruturante (redução drástica do número de deputados, revisão constitucional, criação de uma câmara alta, mudanças na lei eleitoral, círculos uninominais, círculo geral, liberdade de escolha previdencial, reorganização, a sério!, do território, honestidade do Estado, reversão das políticas de saúde e educação), nada de politicamente “fracturante”, nada de politicamente novo, nada de mobilizador, nada.
(Ao elencar propostas, não digo que sejam do meu agrado ou desagrado, só escolhi umas, poucas, das que podiam desencadear discussões que suscitassem algum interesse, ou seja, que valessem a pena em termos de futuro que não fossem compagináveis com os interesses, ou ideológicos ou obscuros, dos partidos comunistas).
Em vez disto, o que temos? Clichés que estão na moda e com que há quem concorde à esquerda e à direita, acompanhadas de nada de substancial, nada que possa indicar caminhos ou diferenças.
Pois não, para Rio, e até ver, o único caminho mostrado é o do “diálogo”. Até já veio, a mando do chefe, o nóvel e mal (pessimamente!) eleito líder parlamentar rioista, confessar que quer transformar os debates quinzenais em “sessões de trabalho”, momentos de cooperação, ou coisa que o valha .
Em menos de uma semana, Rio conseguiu esfrangalhar o partido, desiludir os crentes, pôr de rastos a sua proclamada “moral”, não dizer nada de relevante e, seu maior feito, abrir garrafas de champanhe no Largo dos ratos, dito do Rato. Ribombam por montes e vales, aldeias e cidades, as gargalhadas da grande festa dos murídeos.
23.2.18