VENHA O TIRIRICA
O PSD, nasceu “popular”. Por razões de oportunidade política que não sei se a razão conhece, passou a “social-democrata”. Foi sempre, claramente, contra o socialismo, primeiro o imposto pelos militares, depois, em doses menos radicais, adoptado pelo PS. Era o tempo do chamado “socialismo democrático” que Mário Soares defendia e identificava como social-democracia.
A “social-democracia” do PSD nunca passou de um rótulo que só incidentalmente correspondeu à sua imagem política ou ao que os seus apoiantes e eleitores dele esperavam: a oposição ao PS. Filiou-se no PPE, colocou-se no seu sítio, e conheceu, enquanto tal, largos êxitos.
Porém, nos finais do século XX (Sampaio), princípios do XXI (Costa) as coisas mudaram. A velha distinção soarista entre partidos democráticos e partidos não democráticos tinha os dias contados. Aos poucos, os segundos, por obra do “novo PS”, passaram a fazer parte dos primeiros, não por ter declarado o seu amor à democracia liberal, coisa que nunca farão, mas por ter descoberto vantagem na aceitação da mão que lhes era estendida.
O PSD, por seu lado, não foi capaz de capitalizar a entorse esquerdista, oportunista e pouco séria que está no ADN da geringonça e nunca a abandonará. Traindo a praxe constitucional que entregava o poder ao PSD por via eleitoral, o PS enterrou definitivamente o soarismo e a saudável tradição da III República do poder ao mais votado.
Empurrado, à primeira, pelo turismo e os juros baixos e, à segunda, pela pandemia do medo, o PS solidificou o seu poder, sempre devidamente encostado aos partidos não democráticos (na feliz definição de Soares).
Assim, o seu poder tornou-se avassalador. Os abusos do poder pelo PS começaram com Sócrates - os resultados estão à vista - e, vinda a geringonça, tomaram conta da sociedade. Adoptaram a moral esquerdista, dita fracturante, cumpriram a agenda do BE, passaram a mão pelo pêlo do PC, meteram os media no bolso, promoveram a nova “educação”, apoderaram-se de media obedientes e acéfalos ao mesmo tempo que continuaram, e continuam, a proteger uma economia dita “livre”, mas baseada em rendas e privilégios. Invadiram o Estado, privilegiaram os seus intocáveis empregados em prejuízo de terceiros, criaram um novo eleitorado, feito de favores e de excepções que passaram a regras.
E o PSD? Depois de hesitações várias, sem projecto ou ideologia, acabou nas mãos de um fulano que, sem perceber rigorosamente nada do que o PSD, em matéria de sociedade, representa, voltou à velha tónica da “social democracia” e passou a mendigo do status quo, isto é, do PS. Com a ”desculpa” do “interesse público”, passou a compagnon de route do PS, estando à disposição do poder para tudo o que o poder quer, ou seja, para tudo em que o poder não tenha apoio dos seus geringonços de eleição. Não reage, nem pressionado pelo brutal desprezo com que o adversário o brinda. À fatal ausência de quaisquer ideias que o distingam do adversário, o homem responde com repugnante servilismo. Nem de gato precisa para ir à caça: já tem o cão do PS para caçar, mas não percebe que tal cão leva a caça ao dono, não a ele.
Tudo isto redunda num gigantesco problema para a nossa sociedade. Estamos no caminho do pensamento único, do fim do juízo crítico, do esvasiamento de opção outra que não seja a do seguidismo obrigatório. Tudo o que o PSD podia representar deixou de existir às mãos assassinas do seu líder, feliz por ser desprezado, a apoiar quem dele escarnece, sem sombra de ideia mobilizadora ou útil.
Que hão-de fazer os eleitores, habituais ou ocasionais do PSD? Julgo que há uma só solução: continuar, mas exigir, com todas as forças e todos os meios legítimos ao seu alcance, que este ominoso trambolho dê lugar a outro. Será como com o Tiririca: com outro, pior não fica.
25.7.20