VIOLENTAR A JUVENTUDE
Empurradas pela “ciência” do século, uns milhares de meninos e meninas, universalmente elogiados, anunciaram repetir uma greve às aulas, em defesa do planeta. Ou se trata de uma questão de oportunismo - para os que não perdem uma boa oportunidade para fazer gazeta - ou do convencimento, induzido pela propaganda, de que é indispensável sensibilizar o orbe para a magna questão da salvação do terráquio futuro.
Uma espécie que não tem qualquer tipo de influência nos planetários espirros, que não sabe como evitar a chuva ou domesticar o vento, que não é capaz de tamponar um vulcão ou de prever as suas fúrias, que não tem ponta de domínio sobre o comportamento do sol, sobre a altura das marés ou das ondas, acredita que é capaz de evitar que o clima mude, que o planeta aqueça, como já aqueceu e arrefeceu milhares de vezes, sempre olimpicamente ignorando a presença ou não presença da humanidade à superfície.
O imoral pecado de orgulho em vigor no mundo inteiro, o pretensioso e inatingível objectivo de domar elementos indomáveis, tem por perverso efeito transformar a necessidade de preparar a humanidade para um futuro dito mais quente, de tomar medidas em relação à eventual escassez de água, de criar ambientes urbanos mais resistentes às intempéries, de limpar rios e mares, de criar novos alimentos e de todo um leque de medidas preventivas de um futuro incerto, de estudar a ecologia humana e criar novos habitats, de tratar de coisas reais e importantes, não de imaginar-se influente na mudança de determinismos cósmicos de que pouco percebe e não domina.
Por um lado, as meninas e os meninos, ou se deixam instrumentalizar e violentar pela universal aldrabice, ou não gostam de ir às aulas. Por outro, os adultos, armados em parvos, acham muito bem. Contra isto, batatas.
8.4.19