VOCÊ É UM CANALHA
O inigualável governo que temos, de ciência certa e poder absoluto, determinou, sem lugar a dúvidas, que o culpado de espalhar a pandemia é o Natal.
Assim mesmo, foi você, caro leitor, que, almoçando ou jantando com a família, contribuíu activamente para milhares de contágios, inúmeros óbitos, inenarráveis desgraças. Você é um canalha de lesa pátria. Se convidou para a sua mesa aquele vizinho que está só, a sua velha tia que não tem mais ninguém ou, até, deixou que os seus filhos almoçassem com os avós, então, meu caro, merece o opróbrio generalizado e até, se realizados os desejos do governo, será devidamente multado ou encarcerado.
Sim, meus senhores, a culpa dos desmandos do Natal é sua.
Não, meus senhores, não é das aglomerações à porta dos supermercados, não é do frio e da chuva a que as pessoas são condenadas pelas bichas na rua para tudo e mais alguma coisa, não é da falta de alternativa nos transportes públicos onde as pessoas continuam a acotovelar-se sem que haja, ou reforço de oferta ou diversificação de horários, etc. Nada disso. É da sua inconsciência cívica, da sua falta de cuidado, da sua irresponsbilidade.
Se o SNS, para além do covide, simplesmente deixou de existir, a culpa é sua. A subida dos mortos não covide é culpa sua. Os milhões de consultas e cirurgias adiadas sine die são culpa sua. Ninguém o mandou estar doente, mas sem covide. Não faltava mais nada! O SNS é sagrado, mesmo tendo deixado de existir. Os privados não são gente, imagine-se que até podem cobrar serviços prestados à revelia do socialismo. A culpa é sua, se recorrer a tal gente.
O Natal foi um exemplar pico dos seus crimes! O governo é que é bom.
10.1.21